Para a educação chegar a novo patamar de qualidade, será necessário mudar radicalmente a estrutura de formação dos professores do país, avaliou a educadora Guiomar Namo de Melo em audiência na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), nesta quarta-feira (29). Ela sugeriu que a formação seja feita em tempo integral, em centros de ensino especiais e regime de dedicação intensiva similar ao aplicado aos estudantes de medicina nas residências médicas.
Nesses centros, estudantes de pedagogia recuperariam conteúdos do ensino básico que não dominam, além de ter possibilidade de se transformar em verdadeiros leitores e produtores de textos, com acesso ainda a experiências em outras linguagens. Os que necessitassem receberiam bolsa de estudos nesse período.
- Deixamos a profissão para quem cursou o ensino médio noturno. São eles que vão fazer cursos de pedagogia e vão pagar caro por isso. Depois vão dar aula em escolas públicas e ainda serão culpados pela má qualidade que demos a eles. É uma impiedade o que estamos fazendo com os nossos professores - afirmou.
Coordenada pelo senador Paulo Bauer (PSDB-SC), a audiência tratou da valorização do magistério e deu sequência a uma série de debates em que a comissão antecipa a análise do novo Plano Nacional de Educação (PNE). O plano preparado pelo governo, que deverá valer para os próximos dez anos, ainda está em exame na Câmara dos Deputados.
Quanto à formação continuada, Guiomar sugeriu a definição nacional de diretrizes pedagógicas. A aprendizagem seria referenciada nos currículos escolares, naqueles conteúdos que o aluno deve saber e usando materiais preparados para esse fim. A União teria ainda a função de garantir assistência técnica e financeira para que estados e municípios elaborem seus programas para o desenvolvimento de seus professores.
Leis sem resultados
O secretário de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo Filho, observou que a Constituição determina a elaboração de normas para a valorização do professores. Porém, observou, as leis produzidas com essa intenção até agora não ofereceram resultados: a categoria ainda convive com baixos salários, a ausência de planos de carreira em muitos municípios e a falta de acesso a programas de formação contínua.
Nas escolas, além dos problemas de infraestrutura e da carência de recursos pedagógicos haveria ainda a questão cada vez mais presente da violência, que atinge igualmente os professores.
- Não surpreende, portanto, o que mostram os estudos: nada menos que 33% dos professores sofrem da chamada 'síndrome da desistência'. Até cumprem a carga horária, mas não conseguem mais se comprometer com a aprendizagem dos alunos - disse Araújo Filho.
O educador Edgar Flexa Ribeiro buscou na formação histórica e ideológica do Brasil os motivos que explicariam porque o país "trata tão mal seus professores". Segundo ele, vem de nossas raízes portuguesas o desapreço pelo valor da educação e pela liberdade de aprender e de ensinar. Conforme assinalou, Portugal teria sido o último país europeu a adotar o ensino público e obrigatório.
Presidente da Associação Brasileira de Educação (ABE), Edgar Flexa Ribeiro também contraditou a visão habitual de que, para se desenvolver, o país precisará avançar antes na educação.
Ele acredita que a reforma da educação - ao contrário do que aconteceu em muitos países, como a Coréia - poderá ocorrer em função das demandas do próprio crescimento econômico. É que já estariam ocorrendo nesse momento, em que a carência de mão de obra qualificada vem pressionando iniciativas de capacitação profissional.
Participaram dos debates o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que foi um dos seus propositores, e também Ciro Nogueira (PP-PI), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Wellington Dias (PT-PI) e Ângela Portela (PT-RR).
Gorette Brandão / Agência Senado
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