domingo, 24 de julho de 2011

Educação faz a diferença

Quando era criança, Vladimir Pessoa Mesquita, 38 anos, divertia-se contando as notas dez no seu boletim escolar. Na antiga quarta série do ensino fundamental, foram 33 em um ano. “Meu recorde”, lembra. Era só o começo de uma trajetória alicerçada na Educação.
De lá para cá, foram dois cursos técnicos, uma graduação e duas especializações, todas em instituições federais ou estaduais. Os vinte e seis anos de estudo fizeram do engenheiro eletrônico, professor e empresário um homem bem-sucedido. E não é só na carreira que ele está no topo.
Vladimir é morador da orla de Piedade, área que tem o melhor desempenho educacional da Região Metropolitana do Recife (RMR). Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano da RMR, esse trecho do litoral de Jaboatão dos Guararapes possui um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, subíndice Educação (IDHM-Educação), de 0,991, um resultado equivalente ao de um país de primeiro mundo.
Hoje, último dia série As faces da RMR, o Diario aborda esse tema. De todos os indicadores sociais da RMR, o IDHM-Educação foi o que apresentou melhor resultado, passando de 0,787, em 1991, para 0,866, em 2000, que foi o período abordado na pesquisa.
Na verdade, o que se viu nesse intervalo foi um esforço para tentar saldar uma dívida contraída desde o Brasil Colônia, quando investir em Educação era focar na escolarização das elites. A partir da Constituição de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, a Educação se tornou um direito de todos e isso demandou a formulação de políticas públicas educacionais por parte dos governantes.
“Os efeitos da Constituição e da LDB podem ser sentidos nesse período que analisamos. Foi quando a Educação passou a ser vista como investimento e não mais como custo. Isso vai fazer com que a cobertura seja, praticamente, de 100% em alguns lugares, o que indica que os índices melhoraram, embora ainda tenhamos muitos problemas na qualidade da rede”, avalia a professora da pós-graduação do Núcleo de Política Educacional da Universidade Federal de Pernambuco, Luciana Marques, que participou da elaboração do Atlas.
No Grande Recife, as áreas historicamente mais bem assistidas pelas políticas públicas e com população de maior poder aquisitivo são, justamente, as que despontaram no ranking do IDHM-Educação de 2000, como as orlas de Piedade e Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, e Boa Viagem, nos arredores do shopping, no Recife.
Vladimir sabe que, não fossem as condições de vida favoráveis, dificilmente teria conseguido investir tanto tempo nos estudos. “Tive uma estrutura familiar. Meus pais podiam me dar assistência material e emocional, deixando-me com tempo livre para me dedicar aos estudos”, reconhece.
No contraponto, as áreas rurais, as menos integradas ao polo metropolitano e as que preservam bolsões de pobreza ainda sofrem com o baixo acesso à Educação. É o caso da dona de casa Adriana Alfredo da Silva, 20, moradora de Camela, distrito de Ipojuca. Ela nunca conseguiu tirar os documentos e, por isso, não frequentou a escola na idade regular.
No ano passado, chegou a se matricular num curso de alfabetização de jovens e adultos, mas não deu continuidade porque precisou cuidar dos três filhos. “Até consegui aprender umas letras, mas não sei formar os nomes”, lamenta.
Em Araçoiaba, cerca de 40% da população não era alfabetizada no ano de 2000. A cabeleireira Maria Eunice Silva, 37, só foi escolarizada aos dez anos e terminou o ensino médio há dois. “Me sentia isolada do mundo. Hoje, incentivo meus filhos a estudar e até meu relacionamento com os clientes melhorou, já que, agora, tenho mais informação”, conta.
Para o secretário estadual de Educação, Anderson Gomes, o desempenho da Educação na RMR continuou melhorando na última década, com as políticas de incentivo dos governos federal e estadual e com mais recursos repassados para as prefeituras.
“Temos mais professores capacitados e melhor infraestrutura das escolas. Certamente, os índices devem ter subido. Mas há muito a fazer. Com os dados do Atlas, será mais fácil identificar onde estão os problemas e poderemos corrigi-los mais rapidamente”.
Diário de Pernambuco (PE)

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