domingo, 3 de julho de 2011

A reforma política e a educação

 “Do nosso déficit educacional resulta, como primeira vítima, o déficit democrático...” Mais uma vez, a reforma política volta à pauta na Câmara e no Senado Federal. O tema é importante e o debate se faz necessário, não apenas entre os parlamentares, mas com a participação da sociedade, já que ela é a legítima destinatária de seus resultados.
Não conheço nenhum parlamentar que não queira a reforma política, mas todos que conheço têm em sua cabeça um tipo de reforma. O problema, portanto, está em conciliar a reforma ideal de cada um, com aquela possível de ser alcançada pelo consenso ou pela vontade majoritária do Congresso.
    Esperamos que as mudanças possam, no mínimo, melhorar a democracia, através de um sistema eleitoral justo e transparente.
Um sistema que assegure uma melhor relação entre os eleitores e os eleitos, principalmente no que diz respeito à ética e à qualidade de gestão. Que seja capaz de garantir, ao máximo, a igualdade de condições entre os candidatos na competição eleitoral. Que valorize a doutrina partidária, pois, atualmente, sobram partidos e faltam ideias. Que possa diminuir o custo das campanhas, que é alto se comparado com a renda per capita do brasileiro.
      Vamos admitir que tenhamos uma virtuosa reforma política: ela, por si só, será suficiente para melhorar a nossa democracia?
Respondo não! Para conquistar o selo de qualidade, a nossa democracia depende basicamente da Educação do povo. A democracia é um subproduto da Educação.
Enchemos o peito como a sétima economia do mundo, mas não nos preocupamos por estarmos, segundo a Unesco, na posição de 88º lugar em Educação. A nossa economia, dizem os ufanistas de plantão, está nos trilhos e anda na velocidade do trem-bala, enquanto a Educação anda aos sacolejos da velha maria-fumaça.
Neste descompasso está a origem principal de nossas deficiências democráticas. A nossa Educação não consegue dar respostas adequadas às nossas dívidas sociais e às urgências do nosso desenvolvimento.
       Quanto mais educado for o povo, mais forte e justa será a democracia, pois ela será fruto de um eleitor com melhor nível de informação e mais preparado para exercer o seu direito de decidir e fiscalizar a qualidade dos seus representantes.
Por todas estas razões, precisamos, urgentemente, de um pacto, uma blitz, uma cruzada em favor da Educação, como pilar do desenvolvimento sustentável e da inclusão social duradoura.
Finalmente, lembro uma coincidência. Os parlamentares da atual legislatura, além da reforma política, terão a oportunidade e a responsabilidade de decidir o futuro da Educaçãobrasileira, pois está tramitando na Câmara o Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece 10 diretrizes e 20 metas para serem cumpridas até o ano 2020.
       O PNE foi enviado pelo governo no final de 2010, já com atraso, e agora patina na Câmara Federal. A sociedade, a exemplo da reforma política, precisa estar atenta e até pressionar os parlamentares para que promovam um amplo debate, visando aperfeiçoar o PNE e colocá-lo em votação.
Chegou a hora de avançar rumo ao futuro e isto só será possível voando nas asas libertadoras da Educação. Chega de paliativos, chega de abraçar a ignorância como valor, a não ser que queiramos trazer para o presente o mais antigo manual de cinismo político ensinado por Lao Tseu (China) no século VI, a.C. : “A política dos governantes sábios consiste em esvaziar a mente dos homens e encher-lhes o estômago.”
Celso Bernardi, in: Zero Hora (RS)

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