Espaços "sagrados" destinados a formar cidadãos e profissionais do futuro, as Escolas (não todas, ressalte-se) há muito têm se afastado desses nobres propósitos. Seja pelos desacertos históricos das políticas de governo que regem a Educação do país, seja em função da falência social vigente, as unidades Escolares, em especial as públicas, deixaram de ser referência para os jovens.
Em vez de cumprir o papel de centros transformadores, acabam por funcionar como locais passageiros e inócuos para muitos. E o que é pior: cada vez mais são marcadas pela violência, cujos efeitos já integram o cotidiano de professores, funcionários e estudantes.
Na manhã de ontem, um aluno de 16 anos foi assassinado a tiros por rapazes de 18 anos dentro da Escola Cesário Neto, em Cuiabá. Por trás da frieza da execução, o interminável conflito de grupos de jovens, batizados de gangues, que por uma série de motivos se agridem e se matam sem piedade. Em nada diferem de organizações criminosas.
Alguns meses atrás, outro garoto, também menor de idade, foi baleado em frente a uma Escola pública da Capital. Ao contrário da chacina de Realengo, praticada por uma mente isolada e doentia, os casos rotineiros de violência nos espaços Escolares possuem explicações e fatores "macro" e complexos.
Um exemplo de como a própria comunidade muitas vezes desconsidera a importância das Escolas é o acúmulo de roubos e furtos nessas unidades. Foram 11 ocorrências em pouco mais de um ano somente em Cuiabá. Os responsáveis por tais delitos não são bandidos sofisticados e organizados.
Na maioria das vezes são atos executados por pessoas do mesmo bairro onde as Escolas estão instaladas. Subtraem de salas de aula e da parte administrativa equipamentos de uso direcionado aos alunos e que modernizam o processo ensino-aprendizagem, além de materiais de escritório, como papel, caneta e lápis e até alimentos. Apesar de serem acessíveis à comunidade Escolar gratuitamente, esses "bens de consumo" continuam atraindo os gatunos, interessados quase sempre em revendê-los para comprar droga.
Como dito, as Escolas têm perdido o título de referência para as crianças e adolescentes, mas não por indolência dos professores ou despreparo dos diretores. A verdade é que a situação de carência de investimentos e de atenção adequada ao sistema educacional público, somada à falta de ações sociais convincentes, desembocam inevitavelmente nos espaços Escolares e ajudam a deteriorá-los.
Para resgatar ou mesmo construir uma relação harmoniosa entre Escola e comunidade é preciso muito mais do que ações estanques e limitadas à burocracia governamental. Mais: nada se resolve quando se pensa a questão apenas sob um ponto de vista.
A integração de políticas concretas e duradouras, que abrangem a qualidade do ensino, o reconhecimento e respeito aos educadores, o combate eficaz às drogas, a qualificação profissional e a geração de emprego, é a única saída para que o ensino no país comece a deslanchar.
A Gazeta (MT)
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