segunda-feira, 25 de julho de 2011

Como melhorar o ensino

Pesquisadores de quatro universidades brasileiras analisaram 165 estudos nacionais e internacionais sobre aprendizado escolar e concluíram que o fator mais importante em sala de aula é a qualidade do professor.
Uma das análises revelou que um bom docente aumenta em até 68% a proficiência do aluno. O levantamento faz parte de uma iniciativa do movimento Todos pela Educação e do Instituto Ayrton Senna, cujo objetivo é apontar caminhos para a melhoria do ensino no Brasil.
Hoje, os estudantes brasileiros alcançam resultados negativos tanto em avaliações nacionais como internacionais. Alunos da 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental e do 3.º ano do ensino médio não atingem metas mínimas. Na média nacional, nenhuma série consegue ter ao menos 35% da turma com o aprendizado correto para a idade.
O tamanho e a composição da turma ocupam o segundo e terceiro lugar, respectivamente, no ranking dos fatores que mais influenciam a capacidade de aprendizado.
Classes menores permitem atendimento individualizado e turmas homogêneas – com alunos da mesma idade e desempenho semelhante – facilitam o preparo da aula e a exposição do conteúdo. Em seguida vem o calendário escolar – com fatores como o número de dias letivos e de faltas dos docentes – e a experiência do professor em sala de aula.

1- QUALIDADE DO PROFESSOR 
Benefícios: Estudos demonstram que um aluno que estuda com os melhores professores da rede em vez de ter aula com os piores docentes aprende cerca de 68% a mais do que o aprendizado médio dos alunos durante o ano letivo. 
Desafios: Critérios frequentemente usados para seleção dos profissionais e definição de salários, como titulação e anos de carreira, não são sinônimos de qualidade. O sucesso do professor pode depender mais de características não observadas nas pesquisas, como liderança, motivação e persistência.
Impacto esperado: Aumentar em 68% o aprendizado anual.

2- TAMANHO DA TURMA
Benefícios: Quanto maior o número de alunos por classe, menor a atenção dada pelo professor a cada um, o que pode comprometer o aprendizado. Menos estudantes é sinônimo de atendimento individualizado. 
Desafios: Reduzir o número de alunos por turma requer espaço físico e professores qualificados para atender a demanda criada pelo aumento do número de salas de aula. Por isso, antes de implementar essa política, é necessário avaliar com cuidado o seu custo-benefício.
Impacto esperado: Aumentar em 44% o aprendizado anual. 

3- COMPOSIÇÃO DA TURMA 
Benefícios: Estudos indicam que o aprendizado é mais favorável em classes homogêneas, pois o professor pode preparar a aula segundo o nível da turma. O docente também se sente mais motivado e empenha-se mais em ensinar. 
Desafios: A diversidade da turma traria por si só ganhos para os alunos em termos de convivência e respeito às diferenças. Por isso, gestores e escolas devem avaliar com critério qual a melhor opção. 
Impacto esperado: Aumentar em 35% o aprendizado anual.

4- EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA 
Benefícios: Ter aula com um professor inexperiente, comparado a um docente com no mínimo dois anos de experiência, faz os alunos aprenderem 22% a mais no ano letivo. Além disso, é crescente a indicação de que a experiência do professor é mais importante nas comunidades mais vulneráveis.
Desafios: Pode ocorrer que professores mais experientes reduzam seu nível de esforço exatamente por perceberem que são melhores ou por serem mais bem remunerados por tempo de serviço e não por terem um melhor desempenho em sala de aula.
Impacto esperado: Aumentar em 22% o aprendizado anual. 

5- CALENDÁRIO ESCOLAR 
Benefícios: A ausência do professor pode ter não só um impacto direto no aprendizado dos alunos, com a redução no número de aulas, mas também um efeito indireto sobre sua motivação.
Desafios: Há evidência científica de que não cumprir os dias letivos previstos pode aumentar a taxa de repetência, especialmente dos alunos com pior desempenho.
Impacto esperado: Aumentar em 29% o aprendizado anual.

PESQUISA REDUZ IMPORTÂNCIA DA TITULAÇÃO ACADÊMICA
Os mais de 150 estudos analisados desmitificam algumas ideias de senso comum sobre a figura do professor, entre elas a relação entre titulação acadêmica e desempenho. Um docente formado nas me­­lhores universidades traz impactos positivos, mas a mesma correla­ção não existe com a conclusão ou não de um mestrado, por exemplo. 
Pesquisas mostram que, entre estudantes da mesma escola e vindos de ambientes familiares semelhantes, não há diferença de aprendizado quando o professor tem formação superior ou completou uma pós-graduação. Conse­lheiro do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos explica que uma das possibilidades é que há um descompasso entre o que é ensinado nas universidades e o que é exigido para os alunos da Educação básica, por isso não há um impacto direto. 

MOTIVAÇÃO
Outra hipótese é que as pesquisas existentes não conseguem mensurar a motivação dos docentes. Se um determinado professor tem o magistério como primeira opção certamente será melhor que alguém lecionando por simples falta de alternativa profissional, ainda que este tenha titulação acadêmica maior. 
Por fim, uma última alternativa é que estabilidade, segurança e me­­lhor remuneração oferecidas a quem tem maior titulação possa ter impacto negativo sobre o esforço do professor em sala de aula. “De fato, qualquer privilégio definido segundo o nível educacional, em particular a diferença de remuneração, pode também servir de de­­sestímulo ao esforço dos professores”, dizem os pesquisadores do To­­dos pela Educação no documento.
Gazeta do Povo (PR)

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