quarta-feira, 6 de julho de 2011

Educação no vácuo do poder público

A oferta de Educação é responsabilidade do poder estatal. Mas, com os baixos investimentos na Educação brasileira, ainda insuficientes para colocar o país entre as nações com os melhores indicadores, iniciativas privadas conseguem fazer a diferença na formação dos alunos do ensino público.
Em 2005, o ensino básico da cidade de Nova América da Colina, no Norte do Paraná, teve a vergonhosa marca de 1,2 no Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira (Ideb). O indicador do Ministério da Educação mede, a cada dois anos, a qualidade do ensino no Brasil. Naquele ano, a média nacional era de 3,8.

Projeto foca aspecto emocional
Na escola, as crianças aprendem gramática, geometria, leis da física e muitas outras coisas. Mas manter a calma diante dos problemas, ter flexibilidade para se adaptar a situações difíceis e saber se relacionar são habilidades que normalmente não fazem parte da grade curricular das escolas.
Em Curitiba, 1.140 alunos de 6 a 8 anos, de 15 escolas públicas, têm um hora de aula de Educação emocional por semana. No projeto Amigos do Zippy, eles aprendem a lidar com as dificuldades do dia a dia, a identificar e conversar sobre seus sentimentos e a explorar maneiras de lidar com eles. 
O programa foi desenvolvido pela ONG inglesa Benfrienders Internacional, que presta serviços de prevenção a suicídios, e hoje está em escolas de 19 países. Em Curitiba o programa foi implantado com investimentos do Instituto HSBC Solidariedade.
“Hoje, o governo está focado nos índices de desempenho acadêmico, não no desenvolvimento emocional dos alunos”, afirma a gerente de sustentabilidade do HSBC, Eliziane Gorniak. “Se as crianças não desenvolvem bem suas emoções, elas não se relacionam bem, não conseguem lidar com práticas como o bullying e isso tudo impacta no desempenho escolar.” 
O projeto tem uma série de histórias, que envolve um inseto chamado Zippy e um grupo de crianças. As histórias ilustradas os mostram enfrentando temas como amizade, comunicação, solidão, ameaças, mudanças, perdas e o início de uma nova vida. Os professores são capacitados para discutir os temas e incentivar as crianças a acharem suas próprias soluções. 
“Quando se fala da morte, os próprios adultos não sabem bem como reagir. O projeto tenta fazer com que as crianças encarem essa perda de forma suave e natural”, diz a professora Denise dos Santos, da Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag. Para ela, a família normalmente banaliza a dor da criança, inventando coisas para explicar a morte. “Nós valorizamos o luto da criança e explicamos o que a morte realmente significa.”
Segundo Eliziane, em uma avaliação do programa, 60% dos professores envolvidos apontaram grau máximo para o impacto do projeto em seu crescimento pessoal e profissional. Nos alunos, a avaliação mostrou que a motivação para aprender se tornou maior e o comportamento em sala de aula melhorou. “Eles passam a se comunicar mais livremente e se tornam mais amigáveis”. (JG) 
Diante dessa marca, a prefeitura procurou empresários locais, que se uniram pela qualidade do ensino na cidade. “O Instituto Aguativa e a Destilaria Americana financiaram a im­­plantação do Sistema COC de Ensino na rede municipal. Já em 2007, o Ideb de Nova América subiu para 4,4”, conta a secretária municipal de Edu­­cação, Eliana Sanches. Em 2009, a cidade ganhou a nota 5,5, acima da média nacional de 4,6.
Além de oferecer material didático, treinamento pedagógico para os professores e teleaulas com cursos de Educação continuada, a parceria também ofertou bolsas de estudo para os docentes. “Em 2005, tínhamos 70% dos professores com ensino superior. Hoje, temos 99%”, conta Eliana.
“Metade dos nossos funcionários é de Nova América da Colina. É do nosso interesse que a população tenha Educação de qualidade”, justifica Gilberto Neszlinger, diretor-superintendente do Aguativa Golf Resort, que fica entre Cornélio Procópio e Nova América da Colina.
Empregar cidadãos e pagar seus salários não é o máximo que as empresas podem fazer, de acordo com Neszlinger. “O Estado falha, mesmo com todos os impostos que pagamos. Mas nosso papel não é ficar reclamando. Decidimos fazer a nossa parte.” O projeto atende 415 alunos de 0 a 10 anos e 40 professores.

Biotecnologia
Em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, o projeto Biotecnologia para Sustenta­bilidade vai à Escola, da multinacional Novozymes Latin America, tem o objetivo de despertar o interesse dos alunos pela biotecnologia e elevar o nível do ensino fundamental na disciplina de ciências. Técnicos da empresa se dedicam à formação dos professores de ciências.
“Eles são capacitados para aplicar teoria e prática dentro da realidade escolar e do programa estabelecido pela Se­­cretaria Municipal de Edu­cação”, diz a coordenadora do pro­­jeto, Saionara de Paula.
Por meio de um acordo com a prefeitura, cerca de 800 alunos de 5.ª a 8.ª série aprendem o conceito de sustentabilidade na biotecnologia, ciência que envolve de panificação à produção de biocombustíveis. “Os profissionais acompanham as feiras de ciências que as escolas promovem para mostrar o que os alunos aprenderam”, conta Saionara. 
O professor de Filosofia da Educação na Universidade Fe­­deral do Paraná (UFPR) Gelson Teffer avalia que qualquer ação que converge para a melhoria da Educação é bem-vinda, mas lembra que a iniciativa privada atua como um negócio.
“A Educação é o maior investimento que a sociedade faz para seu próprio desenvolvimento, por isso, tanto público quanto privado devem investir. Mas Educação é dever do Estado”, afirma. “A iniciativa privada cumpre seu papel em contribuir para o desenvolvimento da sociedade, mas não deixa de ser um negócio. Enquanto isso, o país canaliza esforços e recursos para um evento esportivo totalmente comercial”.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)

Nenhum comentário:

Postar um comentário