Como sabemos, a Educação brasileira é estruturada em etapas. Inicia-se na Educação Infantil, continua no chamado Ensino Fundamental - que, junto com o Ensino Médio, constitui o ensino básico.
A partir daí, segue-se, para poucos, o Ensino Superior.
É interessante observar que o Ensino Fundamental recebe esse nome por sua enorme importância no desenvolvimento de competências consideradas essenciais para a vida. Quando o Brasil ainda era uma sociedade agroindustrial, também servia como credencial mínima para entrar no mercado de trabalho.
No segundo grau (atual Ensino Médio), somente o técnico e o normal tinham a função de preparar diretamente para o trabalho.
As demais modalidades -científico e clássico- eram organizadas em função das opções de ensino superior, sendo demandadas pelos que pretendiam ter acesso à universidade. Daí a ideia de que o Ensino Médio seria apenas um "curso de passagem" rumo à universidade.
Nas últimas décadas, as exigências do mercado de trabalho em relação à Escolaridade cresceram muito. Na sociedade do conhecimento, o mínimo exigido é o ensino médio completo.
Por isso, é necessário um grau de abstração e habilidades intelectuais que só são desenvolvidas em pelo menos 11 anos de Escolaridade. O ensino médio não representa mais só uma passagem, mas assume o papel de "Ensino Fundamental" para prosseguir nos estudos e acessar o mercado de trabalho.
De alguma forma, o sistema educacional tenta responder a essa nova demanda. O aumento das matrículas no ensino médio é significativo nas últimas décadas, mas sem dar vazão às reais necessidades.
Apenas a metade dos jovens de 15 a 17 anos que deveriam estar cursando esse nível é aí encontrada.
De cada dez jovens que se matriculam na primeira série, apenas cinco concluem seu curso. Em consequência, a média de Escolaridade dos jovens de 18 a 24 anos ainda é de apenas nove anos (final do ensino fundamental).
O jovem que não termina seu ciclo básico está fadado a desemprego, subemprego ou inserção no mercado marginal. Ao constituírem suas novas famílias, completam o famigerado ciclo reprodutivo da pobreza. A não conclusão do ensino médio ameaça tanto o futuro dos jovens quanto o projeto de desenvolvimento sustentável do país.
Na faixa de 24 a 35 anos, apenas 38% dos trabalhadores possuem o ensino médio. Hoje, altos níveis de desemprego entre os jovens convivem com sobras de postos de trabalho. As regiões Norte, Sul e Centro-Oeste do país já vivem o temido "apagão de mão de obra".
Avançamos muito na cobertura e na qualidade de nosso Ensino Fundamental, mas não dá para esperar que essa "onda" atinja o médio.
Garantir que nossos jovens acessem, permaneçam e concluam o Ensino Médio passa a ser um desafio estratégico para a sociedade brasileira. É preciso que tenhamos consciência de que, neste estágio de desenvolvimento do país, o médio é fundamental.
Folha de São Paulo (SP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário