O escritor porto-alegrense Altair Martins trabalha com Educação há bastante tempo. Tem passagens por diversas instituições de ensino gaúchas, além de ter sido o responsável pela cadeira de Conto no hoje extinto Curso de Formação de Escritores e Agentes Literários da Unisinos, no Rio Grande do Sul.
É autor dos livros Dentro do Olho Dentro, Como se Moesse Ferro, Se Chovessem Pássaros e A Parede no Escuro, este último vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2009. Martins é conhecido por ter opiniões duras e realistas quanto ao ensino de literatura e ao incentivo escolar à leitura de ficção e poesia em nosso país.
Em suas respostas, como ele mesmo diz, não há nada de “light”. Para ele, problema maior que o fato de a Educação literária no Brasil estar ligada às exigências do vestibular é a mediocridade do “novo público” leitor, que, habituado a perguntar tudo aos computadores, não estaria mais “habilitado para ler”.
Martins defende a permanência dos clássicos na sala de aula, e diz que os alunos de hoje também apresentam dificuldades para compreender os autores contemporâneos.
Qual o maior problema enfrentado pelos professores que precisam incentivar seus alunos à leitura no Brasil?
A literatura engessada. O problema da leitura é uma questão social. É exigir demais dos professores, e sobretudo dos professores de literatura, que formem leitores no curto espaço com que lidamos com o aluno. Ajudar na leitura — e na escrita — é função de todas as disciplinas. Mas ler para quê?, ouvimos. Para parar de pé, respondemos. E não parece suficiente.
Se a minha geração ainda sacralizava o livro, deve ter sido a última. O livro não atrai, é objeto antigo — porque não é óbvio, exige mais perguntas do que fornece respostas. Transborda. Agride o leitor medíocre, que sempre busca a alegoria como boia. O novo público não é habilitado para ler. Ao contrário, acostumou-se a apontar suas dúvidas para os computadores e se contentar com as primeiras respostas.
A obrigação de dar aulas tendo o vestibular ou o Enem em mente atrapalha?
Quanto ao vestibular, ao menos no Rio Grande do Sul, é o juízo final, o momento em que o leitorzinho de telinha descobre: “Putz, não sei ler esse troço!”. Quanto ao Enem, até de vendas nos olhos esse leitorzinho de telinha que só lê o obviozinho mas que é considerado moderninho consegue fazer. Estamos quase sozinhos, então? Não, estamos sozinhos mesmo.
Trabalhar com livros contemporâneos funcionaria mais do que com os clássicos? Ou aqui também enfrentamos problemas maiores, decorrentes da formação familiar?
Trabalhar com contemporâneos, dizem os que não trabalham com leitura nenhuma, ajudaria. Ahã. E desde quando contemporâneos são mais fáceis, ou mais atrativos? Tenho dificuldades para trabalhar em sala de aula com o Cristovão Tezza.
Sou daqueles que lutam pela manutenção do clássico na sala de aula porque a sala de aula é o último reduto do clássico. Luto pela leitura de excelência, que é a de poesia. Se não trabalharmos na escola com Machado de Assis e Fernando Pessoa, vamos trabalhar onde? Esperaremos os pais apresentarem Dom Casmurro em casa, aos filhos?
Gazeta do Povo (PR)
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