Apesar de o governo se orgulhar do
progresso social dos últimos anos, o balanço da Educação ainda é bastante
insatisfatório. Entre 2000 e 2010, o número de pessoas sem instrução ou com
ensino fundamental incompleto, com dez anos ou mais, diminuiu, mas ainda
representa metade da população, caindo de 65,1% para 50,2%, de acordo com dados
do Censo de 2010 que acabam de ser divulgados. O percentual de pessoas com
ensino superior completo aumentou de 4,4% para 7,9%, mas continua extremamente
baixo. Até mesmo na região Sudeste, 44,8% da população não tem instrução ou não
concluiu o curso fundamental, e apenas 10% têm ensino superior completo.
Não é por outro motivo que a Educação
deficiente é sempre apontada como uma das principais causas da falta de
competitividade da indústria brasileira e fala-se até em um apagão de mão de
obra qualificada.
O setor público tem investido nos
últimos anos o equivalente a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em Educação e
considera um grande avanço a meta do Plano Nacional de Educação de aplicar 7% a
8% do PIB, o que elevaria o país ao patamar das nações da Organização de
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que o percentual oscila entre
6% e 8%. A comparação falha, porém, ao não levar em conta a diferença de
tamanho da população em idade Escolar e do PIB de cada país.
As deficiências educacionais
influenciam também o desempenho da produção científica e inovação, que irá
igualmente se refletir na competitividade. Não é por outro motivo que o Brasil
estava em 47º lugar no The Global Innovation Index do ano passado, à frente da
Rússia (56º lugar), mas atrás da China (29º).
O Brasil investe pouco mais de 1% do
PIB em pesquisa e desenvolvimento, dividido praticamente em partes iguais entre
o governo (0,54%) e o setor privado (0,57%), de acordo com o Ministério de
Ciência e Tecnologia. Na China, o investimento é de 1,5% do PIB, sendo 1,1% do
setor privado e o restante do setor público. O caso mais extremo é o da Coreia
do Sul, que investe 3,36% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, dos quais nada
menos do que o equivalente a 2,46% são desembolsados pelo setor privado.
Apesar disso tudo, raramente vê-se o
setor privado investindo em Educação, atribuição que é considerada quase que
exclusivamente do setor público. Doações a universidades feitas por empresas e
pessoas, como ocorrem nos Estados Unidos, ainda são raras no Brasil. É mais
provável um brasileiro fazer uma doação a uma universidade americana onde fez
mestrado ou doutorado do que a uma brasileira.
Por isso, foi com relutância que o
setor privado aderiu ao programa Ciência sem Fronteiras, lançado em julho de
2011, com o objetivo de enviar estudantes de graduação e pós-graduação
brasileiros para estágios no exterior. Têm prioridade as áreas de engenharia e
tecnologia, biologia, ciências biomédicas, computação e ciências exatas.
A meta do Ciência sem Fronteiras é
enviar ao exterior 75 mil estudantes até 2015 bancados pelo governo e mais 26
mil pelo setor privado, totalizando 101 mil bolsas. O governo deve investir no
programa cerca de R$ 3 bilhões, e o setor privado mais cerca de R$ 1 bilhão.
Conforme reportagem publicada pelo
Valor na edição de 24/4, até abril, o programa público havia cumprido 20% de
sua meta. Foram cerca de 15 mil bolsas de graduação e pós-graduação em áreas de
carência de mão de obra qualificada consideradas prioritárias para o
desenvolvimento técnico. Mas o setor privado não havia fechado uma única bolsa,
às voltas com questões burocráticas e operacionais.
Na verdade, falta ao setor privado a
experiência no assunto do setor público, cujas agências de fomento à pesquisa,
como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), têm
parceria com instituições de ensino estrangeiras há décadas. Nessa primeira
fase do programa, a quase totalidade das bolsas se concentrou nos Estados
Unidos e os alunos não puderam escolher a universidade de preferência, tarefa
executada por uma agência de colocação contratada. A Petrobras, que financiará
5 mil bolsas até 2017, nas áreas de energia, óleo, gás e biocombustíveis,
preferiu repassar os recursos ao CNPq e à Capes.
Já o setor privado preferiu cuidar da
concessão de bolsas à escolha das universidades diretamente e a demora se deve
à falta de experiência no assunto. Como o processo será feito não é relevante.
O importante é que saia do papel.
Fonte: Valor Econômico (SP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário