Matemática, Português, História,
Geografia, Língua Indígena, Organização dos Poderes, Leitura e Educação para as
Mídias e Cultura de Paz. Achou estranho? Pois essa é apenas uma amostra de como
seria o Ensino médio brasileiro caso as dezenas de novas disciplinas em análise
no Congresso Nacional fossem aprovadas, hoje. Nem mesmo 24 horas por dia de
aula seriam suficientes para tanto conteúdo. E, hoje, elas já são muitas.
Nos últimos anos, três novas matérias e conteúdos foram
incluídos na Educação básica, sendo dois deles para o Ensino médio: Filosofia e
Sociologia. Na mesma linha, há projetos de lei com a intenção de incluir
Psicologia, Artes Cênicas, Artes Plásticas e Introdução ao Direito. Novos temas
também passaram a ter abordagem obrigatória, como cultura afro e indígena. E
pelo menos outros três estão em análise.
Mais tempo
Desde 2010, as Escolas da rede
estadual do Espírito Santo têm ampliado a carga horária do Ensino médio para
dar conta das novas disciplinas e também para melhorar o desempenho dos Alunos.
A carga horária é de cinco horas diárias, sendo que, em 218 Escolas, alguns
dias são estendidos para tempo integral.
Ainda assim, são oito disciplinas no
Ensino fundamental e 12 no Ensino médio. Uma conta que faz a carga horária de
Português cair de 201 horas de aula por ano, na 8ª série do Ensino fundamental,
para 161 horas, no 1º ano do Ensino médio. O tempo dedicado a História e
Biologia também acaba se igualando ao de Educação Física e Arte, no Ensino
médio: são 80 horas para cada, por ano.
Enquanto o currículo
"incha", a qualidade deixa a desejar. No Estado, dados do Programa de
Avaliação da Educação Básica (Paebes) de 2011 mostram que nove em cada dez
estudantes da rede pública saem do Ensino médio sem saber os conteúdos
necessários de Biologia, Química e Física.
Em Matemática, 82% dos Alunos deixam o 3º ano do Ensino médio
sem saber o que deveriam. E em Português, o percentual é de 71%, sendo que no
Ensino médio é de 57% – situação que se repete em todas as outras disciplinas.
Cautela
A subsecretária Estadual de Educação,
Adriana Sperandio, defende a inclusão recente das disciplinas de Sociologia e
Filosofia, mas pondera: "Nem todos os assuntos que preocupam a sociedade
podem se tornar disciplinas. Alguns podem, e devem, estar presentes na formação
dos estudantes, mas não de maneira isolada", diz.
Em 2009, a rede estadual concluiu uma revisão curricular
em que definiu conteúdos que devem ser inseridos ou retirados. "Esse
processo será revisado, este ano, porque o currículo precisa estar sempre
atualizado, priorizando aquilo que enriquece o Ensino", avalia.
Objetivos
Para a especialista em Gestão
Educacional da Fundação Itaú Social, Patrícia Motta Guedes, novos conteúdos e
carga horária estendida só melhoram a qualidade do Ensino se as redes souberem
o que esperam do Aluno ao final da etapa educacional.
Um currículo mais "enxuto", afirma, pode
oferecer mais possibilidade de aprofundamento dos conteúdos do que aqueles que
tentam ser completos. "Na Inglaterra, por exemplo, o Aluno cumpre um
currículo básico e, depois, pode optar por matérias eletivas, como tecnologia,
introdução à administração e ciências sociais. Ele constrói o seu aprendizado a
partir dos seus interesses, e não por obrigações", explica.
Especialista é contrário a novas matérias
Para o membro do Conselho Nacional de
Educação (CNE) e relator das diretrizes curriculares nacionais para o Ensino
médio, José Fernandes de Lima, a Escola está recebendo uma tarefa muito maior
do que deve ter. "Sou contrário à criação de novas disciplinas
obrigatórias. Elas inibem a organização pedagógica da Escola e eliminam a chance
de torná-la atraente", diz.
Lima explica que as diretrizes
curriculares já propõem um núcleo comum de disciplinas, composto por Língua
Portuguesa, Matemática, Ciências e Ciências Sociais.
Tudo o que vai além disso – ele
defende – deve ser tratado como assunto, e não disciplina, com carga horária
específica e Professores contratados exclusivamente para ela.
"O Congresso Nacional e a
sociedade entendem que a Escola deve se preocupar com uma série outros temas
que estão colocados, como uso de drogas, política e direito do consumidor, mas
criar disciplinas para cada uma dessas coisas não é a melhor forma de abordar
os assuntos. Pelo contrário, isso dificulta a execução da principal tarefa da
Escola, que é ensinar o gosto pela aprendizagem", justifica.
Ainda segundo Lima, o constante
surgimento de novas leis para a Educação é uma preocupação comum de países em
desenvolvimento. "Tenta-se resolver problemas externos por meio da Escola,
que acaba se desviando das suas funções", frisa.
Fonte: A Gazeta (ES)
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