Todos os dados disponíveis sobre
educação no Brasil apontam para uma realidade dramática: a qualidade do ensino
público oferecido às crianças e adolescentes é, como regra, muito ruim. A cada
três anos, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mede
os conhecimentos nas áreas de leitura, matemática e ciências entre estudantes
de 15 anos de idade em 65 países – entre eles o Brasil – com o Programa
Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa). Em 2009, foram 400 mil jovens que
fizeram a prova; 20 mil deles brasileiros, de todos os Estados.
Embora tenha apresentado melhora em
comparação ao levantamento anterior, os dados do Pisa situam o Brasil entre os
últimos colocados (54ª posição do ranking). A prova mostrou que a grande
maioria dos alunos brasileiros está no primeiro dos seis níveis de
conhecimento. Nenhum deles chegou ao nível mais alto em ciências e só 20 o
alcançaram em leitura e matemática.
Os resultados, especialmente entre os
alunos das nossas escolas públicas, é uma tragédia. Os alunos com melhor
colocação na prova foram os de Xangai, na China. Outros países asiáticos, como
a Coreia do Sul e Cingapura, também obtiveram ótimas posições. A Finlândia foi
o país com melhor pontuação entre as nações europeias. Acima da média da OCDE,
apareceram também Bélgica, Estônia, Islândia, Holanda, Noruega, Suíça e
Polônia.
A precarização do ensino público nos
níveis Fundamental e Médio no Brasil se fez acompanhar da migração dos filhos
das classes médias e altas para o ensino privado. Assim, quem pode se protege
da tragédia e assegura aos seus uma educação com um mínimo de qualidade e
segurança. Quem não pode se rala. Os pobres, então, mais uma vez, pagam a conta
pela incompetência do Estado. O ponto me parece central para se compreender o
Brasil e suas persistentes injustiças. Com efeito, as oportunidades
educacionais oferecidas aos filhos dos pobres costumam ser, para quase todos
eles, a única chance verdadeira que terão na vida. Se esta educação falhar,
pobreza e ignorância se prolongam pelas gerações. Em média, um ano a mais de
escolaridade no Brasil aumenta em 15% a remuneração. No nível superior, o
incremento chega a 18,7% para cada ano de estudo.
O governo do RS está implantando uma
reforma no ensino médio. Pelo que pude entender, a ideia é oferecer
progressivamente conteúdo técnico nas escolas estaduais; vale dizer: ensino
profissionalizante. Pelo visto, os empresários gaúchos aprovam a proposta.
Compreensível. O que se deveria perguntar, entretanto, é até que ponto esta
reforma não irá aprofundar o fosso entre o ensino público e o privado,
assegurando – agora explicitamente – que os filhos dos pobres não tenham
qualquer chance de aprovação no vestibular. No Brasil, vale lembrar, 34% das
crianças filhas de pais com menos de um ano de estudo repetem esta escolaridade
e apenas 1% delas chegam ao Ensino Superior. Se este for o resultado prático da
reforma, estaremos diante de medida regressiva e de reforço ao “apartheid”
educacional. Apenas este risco, penso, já justificaria um intenso e prolongado
debate sobre o tema.
Marcos Rolim, jornalista, in: Zero
Hora (RS)
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