Ainda existem no Brasil 81,3 milhões
de pessoas com 10 anos de idade ou mais que nunca tiveram instrução escolar ou
que não conseguiram completar o ensino fundamental, o que equivale a 50% da
população. Os dados estão no Censo Demográfico de 2010 e foram divulgados ontem.
O levantamento também mostrou que 18,7 milhões de pessoas (10% do total) nunca
tiveram a oportunidade de pisar em uma escola ou creche.
As informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) são um resumo do que ocorre com a Educação no país: ela vive de
extremos. Enquanto de 2000 para 2010 o Brasil teve um ganho considerável na
taxa de conclusão do ensino superior – de 4,4% para 8,3% da população – ainda
há um porcentual muito maior de indivíduos que dificilmente conseguem chegar à escola
ou, quando chegam, desistem dos estudos.
Número de pessoas com deficiência aumenta 10% entre 2000 e
2010
Em dez anos, o número de pessoas que
declararam ter algum tipo de deficiência, seja visual, auditiva, motora ou
mental, aumentou dez pontos porcentuais. Em 2000, essa população representava
14% dos brasileiros e, em 2010, passou para 24% do total de habitantes.
A maior deficiência é a visual: 35,7
milhões de brasileiros dizem não enxergar direito (18% do total). A segunda
maior é a motora (7% da população) e a terceira é a auditiva, que atinge 5% dos
habitantes.
“Esse grande aumento pode ter relação
com a conceituação do que é ter deficiência visual ou ser cego”, alerta o
oftalmologista Carlos Augusto Moreira Júnior, responsável pelo Serviço de
Retina do Hospital de Olhos do Paraná. Moreira lembra que a Organização Mundial
da Saúde está preocupada com a saúde visual porque, se hoje existem no mundo 45
milhões de cegos, o número pode subior para 70 milhões em 2020. “Isso se deve,
sobretudo, ao aumento da expectativa de vida. Quanto mais velhas as pessoas,
maiores as chances de elas desenvolveram doenças oculares”, explica.
Apesar de a frequência escolar de
crianças entre 7 e 14 anos ser obrigatória, de acordo com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional de 1996, o Brasil ainda tem 966 mil crianças e
adolescentes nessa faixa etária fora da escola. Os dados sobre o ensino médio
também são preocupantes: na faixa de 15 a 17 anos, 16,7% dos brasileiros não
iam à escola em 2010.
A taxa de mortalidade infantil teve
redução recorde na última década e chegou a 15,6 mortes de bebês de até 1 ano
de idade por mil nascidos vivos, segundo dados do Censo 2010 divulgados ontem
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice é 47,5%
menor que os 29,7 por mil registrados em 2000. De 1960 (131 mortes por mil
nascidos vivos) a 2010, a redução foi de 88%.
O Paraná é um exemplo desses dados
opostos. Da Região Sul, é o estado com o maior porcentual de pessoas com 10
anos ou mais que nunca frequentaram uma sala de aula ou não terminaram o fundamental:
são 4,3 milhões (49% do total da população). Por outro lado, também é a unidade
da federação do Sul com mais pessoas que concluíram o ensino superior, 869,6
mil (10%).
A família de Maria do Rosário dos
Santos, 55 anos, é o retrato fiel dessas disparidades. Dos oito irmãos, apenas
ela e outros dois conseguiram concluir a graduação – e viraram professores.
Mas, enquanto ensina os outros sobre Biologia, Maria do Rosário tem na própria
casa irmãos como Aparecida, que nunca conseguiram ler e escrever.
A falta de oportunidades faz com que
Aparecida tenha até dificuldades para identificar as linhas de ônibus de
Curitiba. “Nossa família trabalhava em uma fazenda no interiorzão do Paraná.
Não tínhamos renda para ir para a cidade estudar. Eu consegui com a ajuda de
outras pessoas. Um dos meus irmãos estudou porque começou a dirigir um carro
para o fazendeiro, sem carteira de motorista mesmo, e teve mais contato com a
sociedade”, resume Maria do Rosário.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
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