Aulas de reforço, capoeira, teatro,
música, futebol, banda de fanfarra, alfabetização e letramento. Estas são
apenas algumas das atividades desenvolvidas nas escolas brasileiras que
funcionam em tempo integral. De acordo com o último Resumo Técnico do Censo
Escolar da Educação Básica, foram detectados 21 categorias de cursos de
atividades complementares entre 2010 e 2011 nas unidades com jornada ampliada.
Os dados mostram que é o programa
Mais Educação do governo federal o tipo de projeto complementar mais popular
nessas escolas, com mais de 772 mil matrículas (leia mais sobre o programa
aqui). Em segundo lugar, vêm as aulas de reforço de matemática, com quase 700
mil alunos.
A tabela abaixo mostra as atividades
mais comuns de acordo com os dados de matrículas do Instituto Nacional de
Pesquisas Educacionais (Inep).
Nome do Curso de Atividade
Complementar
|
Matrículas
2011
|
Programa Mais Educação
|
772.544
|
Matemática
|
692.123
|
Letramento e alfabetização
|
476.225
|
Português
|
427.613
|
Futebol e futsal
|
337.387
|
Brincadeiras, jogos não
estruturados, recreação/lazer festas
|
326.020
|
Danças
|
279.138
|
Pintura, grafite, desenho,
escultura, colagem, desenho gráfico, mosaico
|
214.767
|
Leitura e teatro
|
211.378
|
Banda fanfarra, percussão
|
193.388
|
Línguas estrangeiras e indígenas
|
185.596
|
Voleibol, basquetebol, handebol,
basquete de rua, natação
|
185.157
|
Outra categoria de arte e cultura
|
169.616
|
Artes marciais (taekwondo,
jiu-jitsu, judô, caratê)
|
166.010
|
Leitura e produção de texto
|
158.743
|
Software educacional/linux,
informática e tecnologia da informação
|
143.283
|
Outra categoria de acompanhamento
pedagógico
|
136.826
|
Informática e tecnologia da
informação (proinfo)
|
130.582
|
Canto coral
|
121.044
|
Xadrez tradicional e xadrez virtual
|
107.845
|
Outra categoria de esporte e lazer
|
99.617
|
Apesar da extensa gama de possíveis
atividades complementares, os especialistas em Educação integral afirmam que
não basta apenas ampliar o tempo da criança na escola se as horas extras não
fizerem sentido para a vida do aluno e da escola como um todo. Segundo eles, as
múltiplas oportunidades de aprendizagem devem estar relacionadas com as
práticas pedagógicas e de gestão, além de formarem uma conexão com o currículo.
Ou seja, a escola deve analisar aquilo que combina com o perfil de seus alunos
e com sua proposta curricular.
“O modelo pedagógico deve ser
discutido. Não é só dar atividade no contraturno. O currículo deve ser
integrado e o tempo deve ser utilizado para oferecer uma Educação para
valores”, ressalta Marcos Magalhães, presidente do Instituto de
Co-Responsabilidade pela Educação (ICE Brasil).
Segundo ele, essa noção parte do
princípio que aumentar a exposição do aluno ao conhecimento tem impacto
positivo em seu processo de aprendizado e na sua formação humana. “O Brasil
está atrasado nesse aspecto. Na Europa e nos Estados Unidos as crianças passam
mais de 7 horas na escola há décadas. Para se ter uma Educação de qualidade, é
fundamental que a criança passe mais tempo na escola”, explica Magalhães.
O processo de integração do currículo
da escola às atividades complementares deve ocorrer inclusive quando o
atendimento integral ocorrer fora da escola – em organizações não
governamentais, por exemplo.
“A intencionalidade pedagógica da
jornada ampliada deve gerar uma nova aprendizagem para este aluno. São novas
oportunidades educativas que geram conhecimento que são direito da criança”,
afirma Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e
Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). “Não existe um
formato engessado, em que as aulas devem ocorrer na parte da manhã e as
atividades complementares pela tarde. Mas deve haver clareza, porque o projeto
deve dar conta da necessidade e da realidade de cada território. O grande
desafio é a qualidade, permanência e garantia de aprendizagem nessa perspectiva
de Educação integral.”
Segundo Isabel Santana, gerente da
Fundação Itaú Social, uma discussão do que é a formação humana do aluno de
tempo integral é válida. “A lógica deve ser a de uma política multissetorial
interdisciplinar. Deve haver uma diversificação dos projetos pedagógicos,
abordando áreas de cultura, esporte e assistência social. Pensar a Educação
integral hoje só como escola de tempo integral é um equívoco. Ela ultrapassa a
escola”, completa.
Futuro
O debate em torno do que fazer com a
jornada ampliada não está limitado apenas ao Ensino Fundamental. Algumas redes
estão investindo em tempo integral também no Ensino Médio. É o caso do Estado
de São Paulo, que implantou neste ano, em 16 escolas – cerca de 5 mil alunos –
um novo modelo de escola com jornada ampliada para os jovens. Outras escolas
devem aderir à iniciativa.
Os professores têm dedicação plena e
exclusiva às unidades do modelo. Além disso, a ideia é que haja integração das
disciplinas – obrigatórias e eletivas, escolhidas de acordo com o interesse de
cada um – e que os estudantes elaborem um projeto de vida para seu futuro.
“O Ensino Médio é um desafio para
todo mundo. A discussão dos objetivos dessa etapa de ensino ocorre no mundo
inteiro, porque o jovem não se identifica e não se sente atraído por ele”,
explica Valéria Souza, coordenadora do Programa Educação: Compromisso de São
Paulo. “A escola vai formar um novo cidadão pelo protagonismo que esse
estudante vai ter na jornada extra.”
João Bittar/MEC
e Mariana Mandelli/Todos Pela Educação
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