sábado, 26 de maio de 2012

Escolas brasileiras com jornada ampliada desenvolvem 21 tipos de atividades complementares

Aulas de reforço, capoeira, teatro, música, futebol, banda de fanfarra, alfabetização e letramento. Estas são apenas algumas das atividades desenvolvidas nas escolas brasileiras que funcionam em tempo integral. De acordo com o último Resumo Técnico do Censo Escolar da Educação Básica, foram detectados 21 categorias de cursos de atividades complementares entre 2010 e 2011 nas unidades com jornada ampliada.
Os dados mostram que é o programa Mais Educação do governo federal o tipo de projeto complementar mais popular nessas escolas, com mais de 772 mil matrículas (leia mais sobre o programa aqui). Em segundo lugar, vêm as aulas de reforço de matemática, com quase 700 mil alunos.
A tabela abaixo mostra as atividades mais comuns de acordo com os dados de matrículas do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep).
Nome do Curso de Atividade Complementar
Matrículas
2011
Programa Mais Educação
772.544
Matemática
692.123
Letramento e alfabetização
476.225
Português
427.613
Futebol e futsal
337.387
Brincadeiras, jogos não estruturados, recreação/lazer festas
326.020
Danças
279.138
Pintura, grafite, desenho, escultura, colagem, desenho gráfico, mosaico
214.767
Leitura e teatro
211.378
Banda fanfarra, percussão
193.388
Línguas estrangeiras e indígenas
185.596
Voleibol, basquetebol, handebol, basquete de rua, natação
185.157
Outra categoria de arte e cultura
169.616
Artes marciais (taekwondo, jiu-jitsu, judô, caratê)
166.010
Leitura e produção de texto
158.743
Software educacional/linux, informática e tecnologia da informação
143.283
Outra categoria de acompanhamento pedagógico
136.826
Informática e tecnologia da informação (proinfo)
130.582
Canto coral
121.044
Xadrez tradicional e xadrez virtual
107.845
Outra categoria de esporte e lazer
99.617
Fonte: MEC/Inep/Deed. Nota: Foram listados apenas os cursos com até 80% das matrículas   em 2011.

Apesar da extensa gama de possíveis atividades complementares, os especialistas em Educação integral afirmam que não basta apenas ampliar o tempo da criança na escola se as horas extras não fizerem sentido para a vida do aluno e da escola como um todo. Segundo eles, as múltiplas oportunidades de aprendizagem devem estar relacionadas com as práticas pedagógicas e de gestão, além de formarem uma conexão com o currículo. Ou seja, a escola deve analisar aquilo que combina com o perfil de seus alunos e com sua proposta curricular.
“O modelo pedagógico deve ser discutido. Não é só dar atividade no contraturno. O currículo deve ser integrado e o tempo deve ser utilizado para oferecer uma Educação para valores”, ressalta Marcos Magalhães, presidente do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE Brasil).
Segundo ele, essa noção parte do princípio que aumentar a exposição do aluno ao conhecimento tem impacto positivo em seu processo de aprendizado e na sua formação humana. “O Brasil está atrasado nesse aspecto. Na Europa e nos Estados Unidos as crianças passam mais de 7 horas na escola há décadas. Para se ter uma Educação de qualidade, é fundamental que a criança passe mais tempo na escola”, explica Magalhães.
O processo de integração do currículo da escola às atividades complementares deve ocorrer inclusive quando o atendimento integral ocorrer fora da escola – em organizações não governamentais, por exemplo.
“A intencionalidade pedagógica da jornada ampliada deve gerar uma nova aprendizagem para este aluno. São novas oportunidades educativas que geram conhecimento que são direito da criança”, afirma Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). “Não existe um formato engessado, em que as aulas devem ocorrer na parte da manhã e as atividades complementares pela tarde. Mas deve haver clareza, porque o projeto deve dar conta da necessidade e da realidade de cada território. O grande desafio é a qualidade, permanência e garantia de aprendizagem nessa perspectiva de Educação integral.”
Segundo Isabel Santana, gerente da Fundação Itaú Social, uma discussão do que é a formação humana do aluno de tempo integral é válida. “A lógica deve ser a de uma política multissetorial interdisciplinar. Deve haver uma diversificação dos projetos pedagógicos, abordando áreas de cultura, esporte e assistência social. Pensar a Educação integral hoje só como escola de tempo integral é um equívoco. Ela ultrapassa a escola”, completa.

Futuro
O debate em torno do que fazer com a jornada ampliada não está limitado apenas ao Ensino Fundamental. Algumas redes estão investindo em tempo integral também no Ensino Médio. É o caso do Estado de São Paulo, que implantou neste ano, em 16 escolas – cerca de 5 mil alunos – um novo modelo de escola com jornada ampliada para os jovens. Outras escolas devem aderir à iniciativa.
Os professores têm dedicação plena e exclusiva às unidades do modelo. Além disso, a ideia é que haja integração das disciplinas – obrigatórias e eletivas, escolhidas de acordo com o interesse de cada um – e que os estudantes elaborem um projeto de vida para seu futuro.
“O Ensino Médio é um desafio para todo mundo. A discussão dos objetivos dessa etapa de ensino ocorre no mundo inteiro, porque o jovem não se identifica e não se sente atraído por ele”, explica Valéria Souza, coordenadora do Programa Educação: Compromisso de São Paulo. “A escola vai formar um novo cidadão pelo protagonismo que esse estudante vai ter na jornada extra.”
João Bittar/MEC e Mariana Mandelli/Todos Pela Educação

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