Dados do Instituto Nacional de
Pesquisas Educacionais (Inep) revelam a maior taxa de reprovação no Ensino
médio brasileiro desde 1999, primeiro ano disponível para consulta no portal do
órgão do Ministério da Educação (MEC). No ano passado, 13,1% dos estudantes
matriculados em algum ano do Ensino médio no país não obtiveram nota suficiente
para passar de ano. O Rio Grande do Sul desponta no ranking em uma situação bem
mais alarmante do que a média nacional, em que 20,7% dos Alunos repetiram a
mesma série cursada em 2010. Com uma taxa de reprovação de 18,5%, o Distrito
Federal ocupa a segunda posição da lista — ao lado do Rio de Janeiro — com um
dos piores desempenhos do país. O recorte do Inep foi feito com base no Censo Escolar
2011 e leva em consideração as redes pública e privada.
Além do Rio Grande do Sul, Rio de
Janeiro e Distrito Federal, outros 11 estados brasileiros apresentaram índices
de reprovação acima da média nacional. Espírito Santo (18,4%), Mato Grosso
(18,2%), Mato Grosso do Sul (17,1%) e Bahia (15,6%) também estão no topo da
lista. No extremo oposto, encontra-se o Amazonas, com somente 6% de reprovação,
seguido do Ceará (6,7%) e Santa Catarina (7,5%). Com 15,8% de reprovação dos
Alunos do Ensino médio, o Centro-Oeste ocupa o primeiro lugar entre as regiões.
Em seguida, está o Sudeste, com 14,5%.
O ministro Aloizio Mercadante disse
que é necessário um estudo mais aprofundado para poder analisar o aumento da
taxa de reprovação. “Oscilações de um ano para outro sempre acontecem. Para
avaliar o Ensino, a taxa de reprovação é um dos indicadores de fluxo. O outro é
a qualidade do aprendizado. Como o Ensino médio é predominantemente estadual, e
nós tivemos mudanças de governo em muitos estados no ano passado, talvez tenha
aí alguma explicação”, disse.
Desde
que assumiu a pasta, o ministro defende a implementação do programa
“Alfabetização na Idade Certa”, que prevê um exame nacional para estudantes de
7 e 8 anos, de todas as Escolas públicas, para testar o desempenho dos Alunos
em leitura, redação e matemática. A ideia é garantir que os Alunos não deem
continuidade aos estudos sem os conhecimentos básicos.
O mau desempenho, segundo
especialistas, é explicado por problemas como a falta de investimento nas
Escolas, um currículo pouco interessante e investimentos baixos na carreira do
magistério. Porém, para o Professor da faculdade de Educação da Universidade de
Brasília (UnB) Célio Cunha, o mais importante a ser analisado é a deficiência
na trajetória Escolar. Segundo o especialista, é preciso considerar a chamada
“qualidade social da Educação”, que leva em conta o aprendizado infantil e no
Ensino fundamental, além do perfil social do Aluno. “As deficiências vão se
acumulando e aparecem lá na frente. São essas fragilidades que têm que ser
objeto de estudo. É essencial que essa avaliação influencie os projetos
pedagógicos das Escolas estaduais e municipais”, critica. Cunha defende uma
maior sinergia entre as esferas de governo.
Muller Victor Pereira da Silva, 17
anos, relata os dois problemas que o levaram à repetência. Primeiro foi a
dificuldade que enfrentou, assim que ingressou no Ensino médio, em praticamente
todas as matérias. “Eu estudava em um instituto federal bem puxado. Então
realmente não dei conta de acompanhar e acabei reprovando”, conta o rapaz. A
segunda reprovação, de novo no primeiro ano, ele reconhece que ocorreu por
falta de interesse. “Perdia aula, não estudava”, admite. Agora, cursando o
segundo ano do Ensino médio em uma Escola Pública da Asa Sul, Muller conta que
está levando a sério os estudos. Entre as disciplinas preferidas, está a temida
Física.
Para
Davi Araújo Morais, no primeiro ano pela quarta vez, não há matéria difícil ou
fácil. “Gosto mesmo de Filosofia. Quero fazer faculdade nessa área e ser
Professor”, afirma. Sobre as quatro reprovações, o garoto de 18 anos, que
estuda à noite, não faz rodeios: “Foi matança de aula, vadiagem mesmo”, diz
Davi, com o livro A divina comédia nas mãos. “Não vou mais reprovar, cansei
disso”, promete. Atualmente, o adolescente se divide entre as aulas e o estágio
remunerado em um tribunal. Quando terminar o contrato, ele quer trabalhar com
computação em uma gráfica.
Rede pública
No Distrito Federal, assim como nos
outros estados, o problema maior é na rede pública. Na capital federal, em
2011, 22,3% dos estudantes do Ensino médio matriculados em instituições
públicas reprovaram. Segundo o coordenador de Ensino médio da Rede Pública da
secretaria de Educação do DF, Gilmar Ribeiro, os indicadores refletem um
período de falta de políticas públicas no setor. Dados de 2010 mostram que não
houve evolução no desempenho dos últimos dois anos.
"As deficiências vão se
acumulando e aparecem lá na frente. São essas fragilidades que têm que ser
objeto de estudo. É essencial que essa avaliação influencie os projetos
pedagógicos das Escolas estaduais e municipais." (Célio Cunha, Professor
da Universidade de Brasília)
"Como o Ensino médio é
predominantemente estadual, e nós tivemos mudanças de governo em muitos estados
no ano passado, talvez tenha aí alguma explicação." (Aloizio Mercadante,
ministro da Educação)
Polêmica
O Projeto de Lei nº 1530/11, que está
sendo debatido na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, prevê
a divulgação nos estabelecimentos de Ensino básico do país do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Criado em 2007, o Ideb possui uma
escala de zero a dez e mostra a aprovação e média de desempenho dos estudantes
em língua portuguesa e matemática. A proposta tem criado polêmica entre os
parlamentares. A deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) acredita
que isso vai gerar constrangimento entre as Escolas.
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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