A depressão de 1929 teve efeitos
devastadores nos Estados Unidos. Da noite para o dia boa parte da riqueza virou
pó. A produção industrial caiu 50% e o comércio internacional encolheu 70%.
Mais de 5 mil bancos faliram. Agravadas por uma impiedosa seca, as safras
fracassaram por completo. O desemprego disparou, chegando à casa dos 25%.
Para dar uma ocupação a milhões de
pessoas que estavam sem ter o que fazer, o governo americano, em meio de tantos
cortes nos orçamentos, decidiu expandir as bibliotecas públicas para ali
acomodar os que estavam desempregados. Assim foi feito. Os acervos aumentaram,
os espaços e os horários de funcionamento se ampliaram. Surgiram nessa época as
bibliotecas circulantes para atender os leitores das pequenas cidades e da zona
rural.
Qual foi a consequência daquela
iniciativa? Importantíssima. Durante quase dez anos, milhões de desempregados
se ocuparam com a leitura. O resultado foi o previsível: no meio de tantos
desastres, o país enriqueceu o seu mais precioso ativo - o capital humano - e
com isso enfrentou os desafios da retomada do crescimento.
A história está repleta de exemplos
desse tipo. O Plano Marshall teve sucesso na Europa porque, mesmo durante a
guerra, a Educação foi preservada. Muitas Escolas funcionaram até mesmo em dias
de bombardeio.
Depois da terrível devastação nuclear
de Hiroshima e Nagasaki (agosto de 1945), o Japão se levantou com base no bom
preparo da sua gente. A Coreia do Sul ressurgiu das cinzas após o conflito dos
anos 50 e renasceu novamente depois da crise de 1998 - nos dois casos, com base
na Educação do seu povo.
Li com muita atenção a matéria da
revista The Economist (10/3/2012) que revelou uma interessante recorrência nos
Estados Unidos: neste ano de 2012, no meio da recessão que ainda assola aquele
país, 60% dos americanos de 16 a 24 anos - um recorde histórico! - estão matriculados
nas universidades americanas. Mais fantástico é verificar que, entre 2005 e
2011, as bolsas de estudo passaram de 5,5 milhões para 9,6 milhões. O crédito
para pagar as matrículas também aumentou de forma expressiva.
Nos Estados Unidos, 50% dos jovens
entre 18 e 19 anos estão matriculados nas universidades. E mais: 16% dos que
têm mais de 35 anos estudam em Escolas de nível superior, ainda que em tempo
parcial.
Como se vê, no momento em que faltam
empregos, os jovens decidiram sentar nos bancos Escolares. Tudo indica que a
história vai se repetir. Os Estados Unidos sairão da recessão atual com mais
capital humano. Tenho dúvidas de que isso venha a acontecer com os países mais
afetados pela crise na Europa (Portugal, Espanha, Itália, França e Grécia), que
estão cortando fundo os orçamentos da Educação.
No Brasil, por sua vez, estamos
desperdiçando a oportunidade dos bons ventos da economia. Sim, porque, mesmo
com todos os incentivos do Pro-Uni, menos de 15% dos jovens cursam as Escolas
de nível superior. A taxa média de evasão é de 22% e, nas Escolas particulares,
onde está a maioria dos alunos, chega a 26%. Nessas Escolas, a ociosidade
atinge 52% das vagas existentes.
Esse quadro precisa mudar não apenas
no aspecto quantitativo, mas, sobretudo, no qualitativo. A julgar pelo
desempenho dos estudantes nas provas de avaliação, verifica-se que a qualidade
do ensino da grande maioria de nossas faculdades está fortemente comprometida
pelo conluio entre Escolas que fingem que ensinam e alunos que fingem que aprendem.
Uma farsa.
A melhoria da Educação, além dos
visíveis impactos nos campos da cidadania e da democracia, é crucial para
elevar a produtividade do trabalho e a competitividade das empresas e da
economia como um todo. Para os trabalhadores, é essencial para a elevação da
renda e o progresso na carreira. No mundo competitivo, sem Educação, não há
salvação.
José Pastore, in: O Estado de S. Paulo (SP)
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