A educação tem, pelo menos, três
finalidades: a) preparar o homem para compreender sua biologia e cuidar de seu
corpo; b) dotá-lo de conhecimentos e habilidades para o domínio da linguagem,
do pensamento, das ciências e das técnicas; c) desenvolver sua “humanidade”, no
sentido de equipá-lo de um código de censura para distinguir entre o bem e o
mal, respeitar e amar o próximo e, com ele, conviver em paz e segurança.
Assim, educar é promover o
desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, para superar o
estado de “bestialidade” causadora da brutalidade, da crueldade e da
insensibilidade diante do sofrimento e da dor do outro. Educar é, portanto,
humanizar, sair da selvageria para a civilização, no sentido de tolerar as
diferenças, rejeitar o mal e adotar o bem.
Por ser destinada a promover a
evolução integral do indivíduo, a educação é tarefa a ser realizada de forma
tripartite pela família, pelo Estado e pela escola. Se uma dessas instituições
falha no cumprimento de sua parte, a educação é prejudicada e deformações
aparecerão no comportamento das pessoas.
Os maus comportamentos de grupos
(como a selvageria e mortes nas torcidas organizadas de futebol) e a violência
social têm raízes na incapacidade do sistema educacional em domesticar o animal
homem e dar-lhe humanidade. Portanto, falha da família, do Estado e da escola.
Esse assunto comporta muitas
controvérsias, pois cabe perguntar quanto do comportamento humano é genético
(logo, sem muito conserto), quanto deriva do meio ambiente (condições de
bem-estar) e quanto é fruto da educação recebida. Alguns pensadores afirmam que
os assassinos sanguinários não têm culpa consciente de seus atos, pois são
vítimas de sua genética.
Simon Baron-Cohen, Ph.D. em
psicologia pela Universidade Cambridge, dedicou-se a estudar como os alemães se
tornaram tão cruéis durante o nazismo. Em seu livro Science of Evil (A Ciência
da Maldade), ele analisa os fatores biológicos, sociais e ideológicos na
determinação do comportamento cruel e diz que, sim, esses fatores contribuem
para a bestialidade humana.
De qualquer forma, a única esperança
de evolução intelectual e moral do ser humano está na educação, a qual tem
também a tarefa de preparar tecnicamente o homem para o trabalho e para o
processo produtivo, sem o qual não há melhoria do bem-estar material nem
melhoria da própria educação, pois esta depende de recursos materiais, humanos
e financeiros.
Por isso, sempre que falha a família, a escola ou o Estado, a sociedade
perde, e perde muito. O mote deste artigo é a informação veiculada na semana
passada de que a ascensão da classe C provocou, nos últimos dez anos, uma perda
de 4,834 milhões de estudantes nas escolas públicas de educação básica,
enquanto as escolas privadas tiveram um aumento de 1,090 milhão de matrículas.Esses dados indicam algo
inquestionável: a percepção da sociedade é de que o ensino privado é melhor do que
o ensino público. Os amantes do Estado podem questionar a validade dessa
percepção, mas ela revela que as famílias, quando podem, preferem pagar a
escola privada a deixar os filhos na escola Pública, mesmo que gratuita.
Devemos examinar a voz do povo sem
dogmatismos nem rancores, e ela está dizendo que a escola Pública está
falhando. Não que a escola privada seja ótima. Não se trata disso, mesmo porque
estamos no Brasil e se há algo que não acompanhou a evolução econômica do país
é o setor educacional formal.
José Pio
Martins, reitor da Universidade Positivo, in: Gazeta do Povo (PR)
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