Superar a separação entre a universidade e a Escola é um
dos grande problemas do século 21 na área educacional. Quem afirma é o
português António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa e um dos mais
respeitados nomes na área de formação de docentes. Ele esteve em São Paulo para
falar com educadores em encontro promovido pelo Colégio Santo Américo e
concedeu ao Estado a seguinte entrevista.
As universidades precisam pensar na Educação básica?
É absolutamente essencial. Quem forma os professores são
as universidades e se os professores não forem formados numa nova perspectiva,
nova lógica, é muito difícil renovar a Educação. A universidade não pode estar
separada da problemática do ensino básico.
Como a universidade pode colaborar com os governos e as
redes de ensino?
O grande problema é que a formação de professores nas
universidades está muito separada das Escolas, das redes, da realidade dos
professores. É preciso aproximar essas realidades e ao menos tempo criar
instituições que possam definir um pensamento sobre as políticas públicas de
Educação.
Como fazer isso?
Acredito que o modelo da área médica é um bom exemplo.
Junta-se a faculdade de Medicina com centros de pesquisas e hospitais para
criar instituições que, em conjunto, possam produzir pensamento e dar
orientações. O que nos falta em Educação é junção dessas três realidades: da
universidade, da Escola e da pesquisa. A separação desses mundos na Educação é
muito grande e isso é nefasto para o desenvolvimento das Escolas.
A distância entre a universidade e o mercado de trabalho é
mais preocupante na Educação?
Essa critica é bastante habitual, mas não é totalmente
justa em relação a profissões como Engenharia e Medicina. Mas é muito
verdadeira no caso da Educação e ensino, em que a separação é maior. A universidade
tem relação forte com as profissões em algumas carreiras, mas no caso dos
professores é uma relação frágil e isso é um dos grandes problemas do século
21.
Como atacar esse problema?
Não podemos continuar com o modo que
fazemos hoje. A pessoa acaba sua licenciatura e já vai dar aulas, sem nenhum
apoio e transição. A passagem de aluno para jovem professor é muito mal
resolvida. É uma fase que eu chamo de indução profissional. Isso não pode ser
feito dentro na universidade, mas nas Escolas, em um processo de transição, e
não como é agora. Em Portugal, esse assunto vem sendo muito discutido. Há um
projeto de criação de uma espécie de residência em Educação para os primeiros
três anos de carreira. A ideia é integrar de uma forma mais tranquila os professores.
António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa,
in: O Estado de S. Paulo (SP)
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