O último Censo da Educação Superior
revelou que, de 2009 para 2010, o número de matrículas nos cursos de graduação
no ensino superior brasileiro cresceu 7,1%, contabilizando crescimento de
110,1% na última década. Esse crescimento se deu majoritariamente no setor particular
do ensino superior. Hoje, 74% das matrículas nesse nível de ensino são de
responsabilidade do setor privado, ou seja, 4.736.001 do total de 6.379.299.
Nesse contexto, há de se destacar o
crescimento na modalidade de ensino a distância, como resultado da necessidade
de alinhar trabalho e flexibilidade de horário para estudar. Hoje essa
modalidade já é responsável por 15% de todas as matrículas nos cursos de
graduação. Outro interessante aspecto, extraído desse censo, foi a
diversificação da oferta, mediante a expansão das matrículas nos cursos
tecnológicos. Em 2001, esses cursos respondiam por 69.797 das matrículas no
ensino superior; em 2010, o número pulou para 781.609, ou seja, um crescimento
superior a mais de 10 vezes em uma década.
Apesar do crescimento significativo,
o país ainda apresenta percentual relativamente baixo de jovens, na faixa
etária de 18 a 24 anos, cursando o ensino superior: apenas 14,6%. Para se ter
uma ideia, em alguns países da comunidade europeia esse percentual chega a ser
de mais de 50%. Por essa razão, uma das metas do novo Plano Nacional de
Educação (PNE), que ainda tramita no Congresso Nacional, prevê uma expansão dos
atuais 14,6% para 33% até 2021.
É importante registrar que, com base
no PNE 2001-2010, esse último percentual era o que seria esperado já para 2010.
Em números absolutos, significa termos, em 2021, 13 milhões de estudantes
matriculados em cursos de graduação. Para isso, o país, em termos de
investimento no ensino superior, sairá dos atuais R$ 24,8 bilhões para R$ 49,6
bilhões. Isso significa dobrar os atuais investimentos dessa etapa da educação
ao longo dos próximos 10 anos.
Esses investimentos devem não apenas
dar conta da recente expansão do ensino superior público, em decorrência da
interiorização das universidades federais nos estados e da diversificação com a
criação da rede de Institutos Federais Tecnológicos (Ifets), mas também da
necessária expansão dos vitoriosos Programa Universidade para Todos (Prouni) e
Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), aplicados ao ensino superior privado.
Esses programas têm permitido que
jovens de baixa renda possam realizar seus cursos de graduação e, assim, terem
diploma de nível superior. Apesar de sua importância para a democratização do
acesso ao ensino superior, eles ainda são tímidos quando comparados com a atual
demanda. Por exemplo, o Fies este ano foi responsável por 254 mil novas
matrículas, mas isso corresponde, por seu lado, a somente 5% do total de
matrículas do ensino superior privado.
Porém, o maior desafio para a tão
necessária expansão do ensino superior não está no financiamento, mas no
enfrentamento da qualidade da educação básica. Mesmo nos atuais 14,6% de jovens
de 18 a 24 anos no ensino superior, há boa parcela que ingressa no terceiro
grau com formação muito aquém da desejável. Isso se traduz principalmente nos
cursos que exigem certo nível de aprendizado anterior em disciplinas como
matemática, por exemplo.
As reprovações, e consequentes
abandonos, nos ciclos básicos das engenharias e das ciências exatas são
elevadíssimos. Os dois primeiros anos têm sido fatais para grande parcela de
jovens que ingressam nesses cursos, e logo no momento em que o Brasil mais
precisa de profissionais como engenheiros, químicos, físicos e matemáticos.
Hoje, o país forma pouco mais de 30 mil engenheiros por ano, quando se estima
que a demanda seja de mais de 60 mil. A Coreia do Sul forma 80 mil; a Índia,
300 mil e a China, mais de 400 mil ao ano.
Para melhor compreender a falta
desses profissionais no Brasil, para responder ao atual crescimento econômico,
é preciso olhar o percentual de alunos com aprendizagem esperada em matemática
no fim do ensino médio. Dos que terminam, sendo que metade dos jovens ficou
pelo meio do caminho, 89% não aprenderam o que seria esperado nessa disciplina,
especialmente alunos da rede pública de ensino. Isso tem efeito direto na
aprendizagem de outras matérias, como física e química.
O desafio da expansão do ensino
superior, especialmente na área de exatas, passa, portanto, necessariamente pela
oferta de uma escola de boa qualidade para a juventude. Sem resolver os
problemas de aprendizagem já na educação básica, dificilmente teremos uma
formação no ensino superior de qualidade.
Mozart Neves Ramos, in: Correio Braziliense (DF)
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