A solução mais eficiente para
garantir ensino de qualidade na área rural é investir na formação de
professores. Essa é a opinião de quem vive experiências de sucesso na região da
Chapada Diamantina, na Bahia. Tanto para coordenadores quanto para os próprios
professores, a qualidade das aulas mudou quando os educadores receberam
orientação.
Vinte e dois municípios baianos
participam hoje de um projeto idealizado por uma professora inquieta com a
própria realidade. Cybele Amado não se conformava em ver seus alunos da área
rural de Caeté-Açu, na Bahia, sem aprender. Ela não sabia como ajudá-los e nem
a quem recorrer. “Faltava formação e orientação mesmo”, conta.
Cybele conta que, aos 20 anos, diante
de estudantes com idades diferentes e cursando séries distintas na mesma sala
de aula, se sentia mais do que perdida. “Eu sentia necessidade de sair do
isolamento”, conta. Naquela época, mais de 15 anos atrás, a escola em que
trabalhava não tinha internet, nem biblioteca.
O Instituto Chapada de Educação e
Pesquisa (Icep), criado por Cybele, hoje é uma rede de colaboradores.
Professores, coordenadores pedagógicos, diretores e gestores se reúnem, todos
os meses, para dividir experiências e buscar, juntos, soluções. Em todos os
encontros, os alunos se tornaram foco. Fazê-los aprender é missão seguida por
todos.
A proposta do Instituto, adotada por
esses 22 municípios, é integrar os diferentes profissionais das secretarias
municipais de educação na tarefa de ensinar. “A aprendizagem do aluno deve
estar em primeiro lugar em todas as ações. Mas essa responsabilidade não pode
ficar nas mãos dos professores apenas. Todos os atores precisam entender seu
papel”, afirma.
Por isso, as formações do projeto
incluem todos. A combinação feita com as secretarias é de que coordenadores
pedagógicos tenham tempo reservado, todas as semanas, para planejar as aulas
com os professores, ouvir deles as dificuldades que estão sentindo e formá-los
para lidar com os problemas. O processo é o mesmo nas escolas urbanas ou
rurais.
Os resultados já são visíveis. Alguns
dos 22 municípios que atualmente compõem a rede do instituto, que fica na
Chapada Diamantina, já se destacam no índice que mede a qualidade da educação
básica, o Ideb. E não há diferença de desempenho entre as escolas da zona rural
e as urbanas nessas cidades.
Em Boa Vista do Tupim, o Ideb da 4ª série do ensino
fundamental, em 2009, foi de 5,8. O Centro Educacional de Terra Boa, na zona
rural, tem Ideb 5,3. A meta do Ministério da Educação é que o País atinja a
meta de nota 6 em 2022. Em Ibitiara, cujo Ideb é 5, a Escola Professora Maria
M. Xavier, também localizada no campo, o índice é 5,2.
Mudança de olhar
Edinorma Medeiros Gomes de Moraes é
apaixonada pelo trabalho na área rural. Mesmo com os convites para lecionar na
cidade, ela garante que nunca se sentiu tentada a deixar seus alunos da 4ª
série da Escola Municipal Diretor Joel Porto de Oliveira, localizada em um
povoado na área rural de Ibitiara, na Bahia. “Eu me apaixonei pelo lugar. Estou
nessa escola há 18 anos. Antes dela, trabalhei quatro anos em outra escola
rural. As crianças aqui têm mais interesse do que as da cidade. Para elas, a
escola é uma alegria”, garante.
A professora conta que, durante muito
tempo, precisava se virar sozinha com os problemas de aprendizagem das
crianças. E com as falhas de sua própria formação também. Ela só havia
concluído o magistério. A escola não tinha coordenador ou diretor. “Era muito
difícil. Não tinha formação nenhuma, faltava material, não tinha laboratório de
informática ou biblioteca”, diz.
Com o projeto do instituto, Edinorma
perceber a importância de estudar. Cursou pedagogia, fez especialização. Na
rotina semanal, incluiu planejamento pedagógico, grupo de estudo com
coordenador, avaliação. “Me sentia um pouco cega, sem saber o que estava
fazendo. Antes fazia planejamento anual e nem abria ao longo do ano. Hoje,
mudei tudo nas minhas aulas. Hoje faço meu planejamento pensando no aluno que
eu tenho”, afirma.
Na opinião de Regina Scarpa,
coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita, o segredo do sucesso do
projeto é mostrar a importância de dar estabilidade às ações e de fazer do
trabalho um compromisso coletivo. Ela não descarta, porém, que garantir
equidade de condições entre as crianças da área rural e da cidade é fundamental.
“Enquanto não se priorizar a formação
dos professores e coordenadores, não adianta falar em melhoria da qualidade da
educação. A formação inicial não dá capacidade para ensinar. Não se tem
didáticas específicas nos currículos de pedagogia”, analisa.
Fonte: iG
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