Num recente estudo da egípcia Mona
Morshed, da McKinsey, a pesquisadora evidencia que diferentes redes de escolas
públicas têm sucesso quando adotam medidas compatíveis com o estágio de avanço
de seus sistemas escolares. Em outros termos: o receituário atual da Finlândia
ou da Coreia não é o indicado para o Brasil.
O Brasil investiu pouco e tardiamente
em Educação Básica. Em 1930, enquanto a Argentina tinha 62% das suas crianças
nas escolas e o Chile chegava a 73%, nosso país contava com apenas 21,5%.
Apenas em 1997 conseguimos universalizar o acesso das crianças de sete a 14
anos ao Ensino Fundamental. Mas, logo em seguida, um sério problema de
qualidade colocou-se no processo de ensino. Finalmente haviam entrado nas
escolas os filhos dos não letrados ou de pais com baixa escolaridade. Naércio
Menezes, da Insper-SP, mostrou, em artigos recentes, que o sucesso escolar
depende, em grande medida, da escolaridade dos pais. Este é o grande desafio da
Educação brasileira: como ensinar crianças cujos familiares, em muitos casos,
não concluíram as séries iniciais do Ensino Fundamental. Certamente não é
copiando fórmulas da Finlândia, país em que boa parte da população tem formação
universitária.
Os dados educacionais brasileiros são
reveladores: na última aplicação do Sistema de Avaliação da Educação Básica
(Saeb) com resultados divulgados, constataram-se avanços importantes em relação
aos exames anteriores, mas, entre os alunos do 5º ano, apenas 34,2% aprenderam
o que deveriam em língua portuguesa e 32,6%, em matemática. No 9º ano, em
língua portuguesa, a situação é pior: 26,3% dos alunos aprenderam o que
deveriam e, em matemática, só 14,8%. No Ensino Médio, 28,9% dos estudantes
dominam os conhecimentos em português. Em matemática, o pior resultado: 11%.
No Programa Internacional de
Avaliação de Alunos (Pisa), teste organizado pela OCDE que permite avaliar a
qualidade da Educação oferecida aos jovens de 15 anos, o Brasil também tem
mostrado avanços, desde sua primeira participação em 2000 até a mais recente,
em 2009, quando fomos o terceiro país que mais avançou. Mas, mesmo assim,
estamos apenas em 53º lugar, abaixo da Romênia e do México.
Quais são as nossas tarefas nesse
contexto desafiador? Em primeiro lugar, estabelecer um currículo nacional
claro, que deve ser adotado em todo o país e complementado com conteúdos
regionais. Alfabetizar as crianças aos seis anos, como fazem as boas escolas
privadas e, nos três primeiros anos, concentrar-se em ensino da língua e de
matemática. Investir no professor, valorizando-o, capacitando-o e dando-lhe
instrumentos para o processo de ensino. Manter um bom sistema de reforço
escolar, voltado às crianças com mais dificuldade em aprender. Adequar a
Educação a cada fase do desenvolvimento da criança e do adolescente e evitar
excesso de disciplinas com carga horária diminuta, fenômeno que assola o Ensino
Médio.
Mais do que tudo, é fundamental
termos persistência estratégica nos caminhos a serem seguidos para transformar
a Educação. Esta é uma área que apresenta resultados no médio e no longo prazo.
Mas, para obtê-los, é fundamental afastar o fisiologismo vigente na máquina em
muitos Estados e municípios e manter continuidade e consistência técnica nas
políticas educacionais. É possível!
Claudia
Costin, secretária de educação do Rio de Janeiro, in: Zero Hora (RS)
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