Apesar de a família não cumprir seu
papel na maioria das vezes, a responsabilidade pelo crescimento do papel do
professor como influenciador não pode ser totalmente desvinculada da figura
docente. Aos poucos, o professor tem assumido a função de estimular a leitura
conforme ele próprio toma gosto pelos livros. "Ele não mudou seu papel, só
está assumindo mais plenamente e eficientemente sua função de mediação de
leitura", aponta Zoara. Arlete Ansbach, diretora da mesma E.E. Professor
Astor Vasques Lopes, observa essa ampliação do envolvimento docente com a
leitura em sua equipe e avalia que somente agora muitos educadores estão se
tornando leitores competentes. "A própria formação continuada hoje já
exige essa competência. As HTPCs trazem textos, indicações de livros, o que faz
com que o professor seja um leitor. Ele gostando de ler, o aluno pega gosto
também", defende.
E que tipo de apoio os professores precisam na hora de assumir a responsabilidade de incentivadores da leitura? O primeiro suporte, defende Zoara, do Pró-Livro, é a formação inicial e continuada. Segundo ela, não só os professores de português, mas de todas as disciplinas, precisam envolver os livros em suas aulas, pois a leitura é fundamental na absorção do conhecimento e hoje está desvalorizada na universidade. "É fundamental que se perceba a leitura como uma das principais ferramentas para a aprendizagem, o que não acontece nos cursos de formação", alerta.
E que tipo de apoio os professores precisam na hora de assumir a responsabilidade de incentivadores da leitura? O primeiro suporte, defende Zoara, do Pró-Livro, é a formação inicial e continuada. Segundo ela, não só os professores de português, mas de todas as disciplinas, precisam envolver os livros em suas aulas, pois a leitura é fundamental na absorção do conhecimento e hoje está desvalorizada na universidade. "É fundamental que se perceba a leitura como uma das principais ferramentas para a aprendizagem, o que não acontece nos cursos de formação", alerta.
Um segundo aspecto de apoio ao educador seria, dentro das
escolas, melhorar o atendimento e infraestrutura das bibliotecas. A pesquisa do
Pró-Livro revela que esse espaço só é utilizado pelos estudantes, e isso não
apenas nas escolas, mas também nas bibliotecas públicas. "A população em
geral diz que esse é um lugar para desenvolver tarefas escolares, que não é
visto como instrumento de cultura", afirma Zoara. Ela comenta que o modelo
de biblioteca pública brasileiro contribui para essa visão, porque os horários
não são propícios para quem trabalha longas horas - como muitos pais e a maioria
dos professores - e que não há bibliotecários que cativem ou que sejam
mediadores de leitura, ou seja, não interagem com quem vai ao espaço nem tentam
estimular o interesse pela leitura. No caso das bibliotecas escolares, o
cenário é pior, de acordo com Ezequiel Teodoro da Silva, da Unicamp. "São
raras as que têm um bibliotecário. Mesmo assim, há uma série de outras
carências como o espaço da biblioteca e o abastecimento pobre de livros",
diz. Com esses problemas, é difícil para o professor encontrar o suporte de que
precisa para o seu trabalho.
Mesmo com as falhas na sua formação e
a deficiência das bibliotecas, a responsabilidade pela leitura passou às mãos
do educador. É possível encontrar soluções criativas para aproximar os jovens
do mundo dos livros, de forma a fazer com que eles se identifiquem e
estabeleçam um paralelo entre sua realidade e o conteúdo lido. Isso ainda não
ocorre com frequência, segundo Zoara, da Pró-Livro. "O professor ainda não
é um mediador de leitura. Ela continua sendo desenvolvida como uma tarefa, uma
obrigação", observa. A pesquisa mostra que a maior parte dos leitores
brasileiros é formada por estudantes. Ou seja: uma vez que concluem seus
estudos e, por isso, não têm leituras obrigatórias, param de ler. Segundo
Zoara, repetir por todo o país a mesma lista de "clássicos da
literatura" é um "massacre, não um despertar". "O
professor, além de não ter essa competência como mediador, também não é um
leitor. Como ele não tem esse hábito, é difícil ter um grande repertório e
conhecer o que está na prateleira para poder indicar um livro adequado à
realidade dos alunos."
Para se aproximar de seus estudantes,
uma dica da professora Ana Graziela é seguir o ditado "se não pode
vencê-la, junte-se a ela" em relação à tecnologia. Isso porque o ritmo
acelerado de vida em que as crianças estão inseridas está mais em sintonia com
tecnologias como o celular e a internet do que com a tranquilidade do ritmo da
leitura de um livro. "Encontro crianças e famílias que consideram uma
tortura a necessidade de encarar um livro. O maior desafio é criar estratégias
para alcançar esse público, sem que o aluno se torne menos crítico e
argumentativo. Sugiro que a literatura seja associada a outras mídias, fazendo
com que elas sejam apenas o gatilho para disparar o interesse", explica.
Para ela, isso não significa deixar
de indicar um livro, e sim trabalhá-lo em paralelo a outras mídias. Ela sugere
a criação de blogs literários, a premiação dos maiores leitores da turma e a
criação de projetos de experimentação literária, por exemplo, aliados a mídias
digitais. Mesmo que o professor não seja afeito à tecnologia, diz Zoara, sempre
é possível escolher uma leitura adequada para a faixa etária, falando sobre
aquela leitura e depois desenvolvendo trabalhos lúdicos e criativos, como
dramatizações, resenhas e games.
Uma alternativa para os docentes que buscam incentivar o
gosto pelos livros, mas não contam com o apoio da escola e têm pouco repertório
e condições para desenvolver um trabalho complexo, é se inscrever em um projeto
de leitura. Existem muitos oferecidos por ONGs, empresas e governos em todo o
país. Um deles é o grupo "Projetos de Leitura", liderado pelo
escritor Laé de Souza que gratuitamente, mediante inscrição, envia a escolas do
Brasil inteiro um kit com livros e um projeto a ser desenvolvido a partir
deles, com manual do professor, exercícios e folhas de avaliação. Hoje o
movimento tem oito projetos (três deles para escolas) e atende a 300 escolas de
ensino fundamental e médio. "No final da leitura, fazem a discussão do
texto e atividades sugeridas, como adaptação para o teatro. Cada aluno escreve
um texto se baseando nas histórias e as melhores crônicas vão para um livro que
editamos todo ano", descreve Souza.
Investir na família
Preocupada com a falta de interesse e
envolvimento de seus alunos em todas as atividades que exigiam a capacidade
leitora, a professora de língua portuguesa e literatura Ana Graziela Cabral,
que lecionava o 5º ano do ensino fundamental no Centro Pedagógico de Educação
Básica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tomou a iniciativa de
aproximar os livros de seus estudantes sem fazer disso algo obrigatório.
"Deparava-me com crianças a cada dia menos críticas, com uma menor
capacidade interpretativa e argumentativa. Optei por envolver a família no
problema, para que, longe dos muros da escola, o aluno pudesse encontrar um
referencial de um bom leitor", conta. Ela criou o projeto "Incentivo
à leitura: o livro que marcou minha vida", no qual os alunos deveriam
pedir a um familiar a indicação de uma obra que tivesse marcado a sua vida. Em
sala de aula, os jovens elaboravam entrevistas sobre aquele livro ao seu
parente. O familiar deveria então, junto ao aluno, buscar o livro em uma
biblioteca ou comprá-lo, e o jovem tinha de ler a obra. Depois disso, os
estudantes faziam uma série de atividades em sala de aula, apresentavam o livro
à turma e depois no pátio − junto ao parente − e produziam uma carta de
recomendação da obra para outras turmas. "Os resultados foram
surpreendentes. Tive retorno de pais que relataram que, após a indicação do
primeiro livro, os filhos passaram a ler novas indicações de familiares de uma
forma espontânea. Há também alunos que relataram que os pais passaram a dedicar
tempo a momentos de leitura com o filho", comemora.
Fonte: Revista Educação
Nenhum comentário:
Postar um comentário