sexta-feira, 11 de maio de 2012

O novo formador – parte II

 
Apesar de a família não cumprir seu papel na maioria das vezes, a responsabilidade pelo crescimento do papel do professor como influenciador não pode ser totalmente desvinculada da figura docente. Aos poucos, o professor tem assumido a função de estimular a leitura conforme ele próprio toma gosto pelos livros. "Ele não mudou seu papel, só está assumindo mais plenamente e eficientemente sua função de mediação de leitura", aponta Zoara. Arlete Ansbach, diretora da mesma E.E. Professor Astor Vasques Lopes, observa essa ampliação do envolvimento docente com a leitura em sua equipe e avalia que somente agora muitos educadores estão se tornando leitores competentes. "A própria formação continuada hoje já exige essa competência. As HTPCs trazem textos, indicações de livros, o que faz com que o professor seja um leitor. Ele gostando de ler, o aluno pega gosto também", defende.
E que tipo de apoio os professores precisam na hora de assumir a responsabilidade de incentivadores da leitura? O primeiro suporte, defende Zoara, do Pró-Livro, é a formação inicial e continuada. Segundo ela, não só os professores de português, mas de todas as disciplinas, precisam envolver os livros em suas aulas, pois a leitura é fundamental na absorção do conhecimento e hoje está desvalorizada na universidade. "É fundamental que se perceba a leitura como uma das principais ferramentas para a aprendizagem, o que não acontece nos cursos de formação", alerta.
Um segundo aspecto de apoio ao educador seria, dentro das escolas, melhorar o atendimento e infraestrutura das bibliotecas. A pesquisa do Pró-Livro revela que esse espaço só é utilizado pelos estudantes, e isso não apenas nas escolas, mas também nas bibliotecas públicas. "A população em geral diz que esse é um lugar para desenvolver tarefas escolares, que não é visto como instrumento de cultura", afirma Zoara. Ela comenta que o modelo de biblioteca pública brasileiro contribui para essa visão, porque os horários não são propícios para quem trabalha longas horas - como muitos pais e a maioria dos professores - e que não há bibliotecários que cativem ou que sejam mediadores de leitura, ou seja, não interagem com quem vai ao espaço nem tentam estimular o interesse pela leitura. No caso das bibliotecas escolares, o cenário é pior, de acordo com Ezequiel Teodoro da Silva, da Unicamp. "São raras as que têm um bibliotecário. Mesmo assim, há uma série de outras carências como o espaço da biblioteca e o abastecimento pobre de livros", diz. Com esses problemas, é difícil para o professor encontrar o suporte de que precisa para o seu trabalho.

 Soluções para aproximar o jovem do livro
Mesmo com as falhas na sua formação e a deficiência das bibliotecas, a responsabilidade pela leitura passou às mãos do educador. É possível encontrar soluções criativas para aproximar os jovens do mundo dos livros, de forma a fazer com que eles se identifiquem e estabeleçam um paralelo entre sua realidade e o conteúdo lido. Isso ainda não ocorre com frequência, segundo Zoara, da Pró-Livro. "O professor ainda não é um mediador de leitura. Ela continua sendo desenvolvida como uma tarefa, uma obrigação", observa. A pesquisa mostra que a maior parte dos leitores brasileiros é formada por estudantes. Ou seja: uma vez que concluem seus estudos e, por isso, não têm leituras obrigatórias, param de ler. Segundo Zoara, repetir por todo o país a mesma lista de "clássicos da literatura" é um "massacre, não um despertar". "O professor, além de não ter essa competência como mediador, também não é um leitor. Como ele não tem esse hábito, é difícil ter um grande repertório e conhecer o que está na prateleira para poder indicar um livro adequado à realidade dos alunos."
Para se aproximar de seus estudantes, uma dica da professora Ana Graziela é seguir o ditado "se não pode vencê-la, junte-se a ela" em relação à tecnologia. Isso porque o ritmo acelerado de vida em que as crianças estão inseridas está mais em sintonia com tecnologias como o celular e a internet do que com a tranquilidade do ritmo da leitura de um livro. "Encontro crianças e famílias que consideram uma tortura a necessidade de encarar um livro. O maior desafio é criar estratégias para alcançar esse público, sem que o aluno se torne menos crítico e argumentativo. Sugiro que a literatura seja associada a outras mídias, fazendo com que elas sejam apenas o gatilho para disparar o interesse", explica.
Para ela, isso não significa deixar de indicar um livro, e sim trabalhá-lo em paralelo a outras mídias. Ela sugere a criação de blogs literários, a premiação dos maiores leitores da turma e a criação de projetos de experimentação literária, por exemplo, aliados a mídias digitais. Mesmo que o professor não seja afeito à tecnologia, diz Zoara, sempre é possível escolher uma leitura adequada para a faixa etária, falando sobre aquela leitura e depois desenvolvendo trabalhos lúdicos e criativos, como dramatizações, resenhas e games.
Uma alternativa para os docentes que buscam incentivar o gosto pelos livros, mas não contam com o apoio da escola e têm pouco repertório e condições para desenvolver um trabalho complexo, é se inscrever em um projeto de leitura. Existem muitos oferecidos por ONGs, empresas e governos em todo o país. Um deles é o grupo "Projetos de Leitura", liderado pelo escritor Laé de Souza que gratuitamente, mediante inscrição, envia a escolas do Brasil inteiro um kit com livros e um projeto a ser desenvolvido a partir deles, com manual do professor, exercícios e folhas de avaliação. Hoje o movimento tem oito projetos (três deles para escolas) e atende a 300 escolas de ensino fundamental e médio. "No final da leitura, fazem a discussão do texto e atividades sugeridas, como adaptação para o teatro. Cada aluno escreve um texto se baseando nas histórias e as melhores crônicas vão para um livro que editamos todo ano", descreve Souza.

Investir na família
Preocupada com a falta de interesse e envolvimento de seus alunos em todas as atividades que exigiam a capacidade leitora, a professora de língua portuguesa e literatura Ana Graziela Cabral, que lecionava o 5º ano do ensino fundamental no Centro Pedagógico de Educação Básica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tomou a iniciativa de aproximar os livros de seus estudantes sem fazer disso algo obrigatório. "Deparava-me com crianças a cada dia menos críticas, com uma menor capacidade interpretativa e argumentativa. Optei por envolver a família no problema, para que, longe dos muros da escola, o aluno pudesse encontrar um referencial de um bom leitor", conta. Ela criou o projeto "Incentivo à leitura: o livro que marcou minha vida", no qual os alunos deveriam pedir a um familiar a indicação de uma obra que tivesse marcado a sua vida. Em sala de aula, os jovens elaboravam entrevistas sobre aquele livro ao seu parente. O familiar deveria então, junto ao aluno, buscar o livro em uma biblioteca ou comprá-lo, e o jovem tinha de ler a obra. Depois disso, os estudantes faziam uma série de atividades em sala de aula, apresentavam o livro à turma e depois no pátio − junto ao parente − e produziam uma carta de recomendação da obra para outras turmas. "Os resultados foram surpreendentes. Tive retorno de pais que relataram que, após a indicação do primeiro livro, os filhos passaram a ler novas indicações de familiares de uma forma espontânea. Há também alunos que relataram que os pais passaram a dedicar tempo a momentos de leitura com o filho", comemora.
Fonte: Revista Educação

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