O estudante João Pedro Borges Santos
tem 15 anos e nunca teve grandes dificuldades na escola. Mas a chegada ao
ensino médio cobrou-lhe uma atenção redobrada para manter o desempenho. "É
bem diferente, na questão de avaliações, da cobrança." A colega Talita
Novaes Moura, de 15 anos, tem sentido a mudança (e sofrido com ela).
"Nunca fui de tirar dúvidas na sala, por timidez, e agora está ficando
difícil acompanhar."
Os dois são alunos do 1.º ano do
ensino médio, considerado o "vilão" para os estudantes. Em várias das
grandes escolas particulares, como o Colégio Santa Maria, na zona sul de São
Paulo - onde ambos estudam -, o índice de retenção é bastante superior aos
demais anos dessa fase.
Segundo diretores e coordenadores, a
explicação não é só o currículo, mas também se relaciona com mudança de
comportamento dos jovens por conta da idade e da transição para uma nova fase.
"No ano passado, olhava para o pessoal do ensino médio e todo mundo tinha
um jeito diferente, mais unido, falando em festas, em um nova fase", diz
Talita.
No Santa Maria, por exemplo, o índice
de retenção em 2011 chegou a 10% dos alunos. Para a coordenadora dessa série no
colégio, Roberta Edo, a repetência não pode ser vista como atraso.
"Refazer é positivo, porque a função da escola é estruturar. Se tivesse
passado, não iria acompanhar o próximo período", diz ela. "As
mudanças curriculares coincidem com uma mudança interna, eles querem ter
liberdade e autonomia."
A estudante Laís, de 16 anos, vive
isso. Está fazendo o 1.º ano pela segunda vez, depois de ter sido retida em
2011. "A gente acha que é mais independente. E não acompanhei, não me
adaptei e comecei a ir mal em matéria que sempre gostei. Só depois que repeti
percebi as mudanças, que preciso estudar todo dia, tirar as dúvidas", diz
ela, que não quis dizer o sobrenome.
Aulas. Para Alex Tabuada, de 17 anos
e aluno do Mater Dei, que também repetiu o 1.º ano, a dificuldade maior foi
acompanhar as disciplinas - apesar de ter sobrenome de conteúdo matemático.
"Temos muito mais matérias e, ano passado, não estudei no começo. Depois
virou uma bola de neve", diz ele.
No Mater Dei, o número de retenções
também cresce na entrada para o ensino médio - é quase o dobro do registrado no
2.º ano -, assim como o de alunos que trocam de escola na reta final para
evitar perder o ano. "É uma grande transição. A carga horária a partir do
primeiro ano do ensino médio é maior. As exatas são a grande dificuldade",
diz a coordenadora, Regina Ratto. Na escola dela, o ensino médio possui nove
aulas a mais que o último ano do fundamental.
Os alunos do ensino médio encontram
uma mudança considerável na grade de aulas. Química, Física e Biologia ganham
especificidades, além de novos conceitos em Língua Portuguesa e Literatura. E a
luz vermelha do vestibular começa a aparecer.
"Normalmente, o ensino médio tem
ritmo mais puxado, porque a gente tenta fazer tudo em 2 anos e meio para que
haja uma espécie de cursinho nos últimos seis meses", explica a
coordenadora pedagógica do Colégio Sidarta, Anna Karina Da Col. Segundo ela, é
importante que a transição seja realizada de modo gradual. "Temos que
envolver a família, não da para esperar o boletim", completa.
No Sidarta, o nível de retenção no
1.º ano é evitado com algumas ações, como uma recuperação paralela, um conselho
no meio do trimestre para analisar casos específicos, além da aproximação dos
professores do ensino médio com as séries do fundamental.
Apesar das preocupações da escola,
Melanie Ho, de 14 anos, notou uma mudança. "A sala toda sentiu uma
diferença em relação ao aprendizado. A responsabilidade tem de ser maior, já
sabemos que precisamos de mais foco", disse.
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)
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